"Entrei no futebol internacional pela porta de um pequeno clube alemão. Nesse ano chegámos à final da DFB-Pokal (Taça da Alemanha) e, no seguinte, à Taça UEFA, onde encontrámos o AZ Alkmaar de Co Adriaanse. Como português senti-me vingado passados alguns meses pelo Sporting de José Peseiro. Salvaguardadas as devidas distâncias, tal como para o Sporting de 2005, também para o Alemannia Aachen a glória foi coisa vã. Embalados no entusiasmo, meteram-se a construir aquele que é ao dia de hoje o melhor estádio das ligas regionais da Alemanha. As dívidas contraídas com um luxo de 32.000 lugares aquecidos e totalmente cobertos empurraram para a inocuidade um emblema com 120 anos de existência.
Mais tarde 'transferi-me' para um clube deprimido: tinham escapado à despromoção por 1 ponto e o luto por Robert Enke era omnipresente. O presidente, apesar de ser um dos homens mais ricos da Alemanha, farto de 'meter do dele', fez um corte de 30% no orçamento do clube e remodelou a 100% as equipas de gestão, de prospecção e de recrutamento. Nos 2 anos seguintes fomos à Liga Europa, e numa performance singular na história do Hannover 96, com o português Sérgio Pinto a capitão, ainda sonhámos com a final... não fosse um tal de Atlético de Diego Simeone que haveria de levantar o troféu.
Com o sucesso veio a cobiça de clubes mais poderosos, peça a peça, dentro e fora de campo, a máquina foi sendo desmantelada até que chegou a minha vez. Tive abordagens de Borussia Dortmund, Bayer Leverkusen e até Man. United... e escolhi o FC Köln!
O clube do sobredotado Lucas Podolski e, antes dele, dos meus ídolos de infância: Littbarski, o pequeno genial do Reno, e Harald 'Tony' Schumacher, o carrasco de Battiston em 82 mas amigo do nosso grande Carlos Manuel. O Colónia, mais do que um gigante adormecido, estava a afundar. Mas o director desportivo que me queria era alguém a quem ainda hoje devo grande parte do meu conhecimento, e sabia que com ele eu não seria apenas mais um. Em três anos renovámos toda a equipa. Tivemos por base a formação do clube, e fizemos uma aposta fortíssima no reforço dos quadros técnicos do clube alterando os paradigmas do recrutamento. Grandes nomes, como o internacional português Maniche, foram dispensados, e os que vieram foram seleccionados com base na evidência. Fomos buscar jogadores que ninguém conhecia, alguns até amadores (o campeão do Mundo Jonas Hector é um exemplo), e fomos campeões na 2.ª Bundesliga. O clube salvou-se de uma gigantesca crise financeira e duplicou o orçamento inicial de 60 milhões de euros apenas com recurso às receitas próprias. Acabámos em pleno Emirates a ganhar ao Arsenal de Unay Emery.
Este ano espero festejar um novo título de campeão e nova subida, desta feita com o clássico Arminia Bielefeld e à frente de equipas com quatro vezes o nosso orçamento!
Por todas estas histórias de futebol e viagens da vida não me venham dizer que no futebol o que importa é ter 'estrelinha'!
O recrutamento e a gestão desportiva são as bases do sucesso que, mais cedo que tarde, nos baterá à porta quando temos condições e tempo para trabalhar.
Esta é a lição pela qual estarei para sempre grato ao futebol alemão.
E este final de semana, como profissional do futebol, ficarei duplamente e novamente agradecido à Bundesliga.
O retomar da Bundesliga faz prova que nós, profissionais que dependem do jogo para viver, temos mais condições e igual direito ao trabalho do que quaisquer outros cidadãos em qualquer outro ramo de actividade económica. É um direito tão meu como é o de um qualquer operário.
Uma coisa vos garanto: na Alemanha, como por cá, o futebol vai reerguer-se sozinho, pelo mérito dos seus profissionais e pela paixão dos seus adeptos, mas a sobrevivência de grandes elefantes brancos como são a Lufthansa ou a TAP vai ser paga com o esforço de todos nós."
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