"Benfica aponta ao tetra com Sporting na cola. FC Porto é o mais pressionado: ficou a zero nas últimas 12 competições.
Faz hoje precisamente três anos que o futebol do FC Porto festejou a última conquista: a Supertaça Cândido de Oliveira, ganha em Aveiro ao Vitória Guimarães (3-0)... de Rui Vitória. Paulo Fonseca era o treinador e o FCP garantia o 74.º troféu no futebol (20.ª Supertaça) contra 70 do Benfica e 46 do Sporting.
Pinto da Costa estava decerto longe de imaginar que nos três anos e doze competições seguintes o FCP ia ficar a zero; e que o Benfica ia ganhar nove dessas doze competições (3 campeonatos, 3 Taças da Liga, 2 Supertaças e uma Taça de Portugal), recuperando a liderança do futebol português. Mesmo o Sporting (dois troféus) e o Braga (um) fizeram mais que os dragões neste triénio de pesadelo. A viver aquele que é, de longe, o maior jejum do seu consulado de 34 anos, Pinto da Costa preside ao clube mais pressionado para ganhar o campeonato. Os adeptos do FCP, habituados a três décadas de glória e vitórias ininterruptas, não estão na disposição de tolerar mais fracassos, tropeções e erros de avaliação semelhantes ao que conduziram o FCP à situação actual. Daí ser o FCP aquele que começa o campeonato mais angustiado. Porque não contratou um treinador indiscutível; porque não contratou reforços de primeira grandeza como era costume; porque não conseguiu fechar negócios que há uns anos jamais falharia (vide folhetim Boly); porque a injecção de qualidade que o plantel necessitava em várias posições terá ficado aquém das necessidades. Lembro que tanto o Benfica como o Sporting tinham plantéis claramente superiores ao portista e quer-me parecer, correndo o risco de estar redondamente enganado, que essa décalage não foi suficientemente encurtada.
O Sporting parte na cola do Benfica. A equipa valorizou-se extraordinariamente no Europeu de França (quatro campeões!) e, como não perdeu nenhum jogador nuclear (ao contrário do Benfica) devia ser neste momento o candidato mais sólido e confiante. Mas não é. O assédio aos campeões europeus e ao excelente ponta de lança que é Slimani, conjugado com outros factores que fazem parte do jogo do mercado (impaciência/desapontamento dos jogadores perante o que consideram ser expectativas defraudadas; impaciência/pressão/gula de empresários e outros comissionistas) transformam o Sporting num potencial barril de pólvora. Veem-se caras feias, amuos, até birras, mas nada que não se possa resolver. Bruno de Carvalho há de ter aprendido que este é o preço que um grande realmente competitivo tem de pagar. FC Porto e Benfica passaram por esta situação n vezes nos últimos defesos e aprenderam a lidar com ela - construindo pontes, acordos, compromissos honrosos (sobretudo: proveitosos) para as duas partes. É claro que se a abordagem destes casos for semelhante à gestão do dossier-Carrillo, então o SCP tem mesmo o caldo entornado.
O Benfica parte na frente. A meu ver é claro favorito ao título - ao tetra. Como se viu em Aveiro, mantém o óptimo astral da época passada (Cervi parece capaz de substituir Gaitán, sendo a baixa de Renato mais difícil de preencher), um treinador sereno e competente suportado por estrutura já rotinada no sucesso. O clube está sólido e confiante: ninguém entra em pânico à primeira contrariedade. O Benfica interiorizou a vício de ganhar que durante tantos foi exclusivo portista. Só não concordo com um detalhe no projecção que o meu amigo Fernando Guerra fez aqui ontem («o processo revolucionário em curso operado por LFV não sei como o quando acabará, mas acredito que vai passar por uma final da Liga dos Campeões e do que dela resultar»). No particular caso benfiquista, uma final da Champions por si só não chega, Fernando. Ao fim de nove finais perdidas (!), só mesmo a vitória interessa.
(...)"
André Pipa, in a Bola
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