"Um dia ia acontecer. Os escândalos eram tantos e as suspeitas ainda mais para que se eternizasse esta paz falsa no universo FIFA. Rebentou pelo lado da CONCACAF, mas a procuradora-geral Loretta Lynch já avisou que a investigação vai mais longe e que inclui, por exemplo, a atribuição do Mundial à África do Sul ou as eleições de 2011.
Se juntarmos a isto um outro processo que decorre, relacionado com as escolhas da Rússia e Qatar (lembram-se que a FIFA não aceitou a divulgação integral do relatório Garcia?), mais os negócios pouco ou nada claros que se prendem com a gestão do marketing e direitos televisivos nos campeonatos do mundo - no caso do Brasil, a FIFA arrecadou o dinheiro todo destas áreas, enquanto os brasileiros tiveram de se aguentar com as despesas dos estádios -, enfim, deparamos com uma infindável lista de motivos para concluirmos que o reinado de Joseph Blatter é algo que anda muito perto de um regime a meio caminho entre o autoritarismo e o golpismo.
A dimensão mediática dos acontecimentos das últimas horas foi potenciada de forma quase explosiva pelo simples facto de estarmos a dois dias de novas eleições. Que é como quem diz, de novo triunfo de Blatter. Quando aqui referi que o suíço tinha a eleição 'no bolso', a expressão devia ser entendida nos seus múltiplos sentidos. Também nesse em que estão a pensar, o do que os 'eleitores', na sua maioria, foram 'convencidos' de que Blatter era o melhor para os seus interesses. Federativos, pessoais, ou as duas coisas juntas.
Este é um tema que daria, não para um post de registo, mas sim para uma autêntica enciclopédia. Como não há tempo nem espaço para tal, fiquemos somente pelas eventuais consequências no curto/médio prazo.
É um abalo violentíssimo para o futebol, porque, em última instância, convém não esquecer de que estamos a falar de uma organização que tem mais representantes do que a ONU e que constitui hoje a maior multinacional do planeta. Colocar tudo isto em causa é um terramoto. No entanto, como já reparámos, o nome de Blatter não consta em lado algum. Nem é crível que surja - pelo menos tão depressa - , mesmo sabendo todos nós que é totalmente impossível o chefe máximo ignorar todo este festival que foi ocorrendo à sua volta durante décadas.
Apanhar Blatter neste contexto - o eleitoral - seria sempre complicado. Ainda assim, o homem que manda e que vai continuar a mandar sabe, a partir de agora, que o cerco está a apertar. Sabe que o mundo está mais desperto do que nunca para os meandros corruptos da FIFA. E isto é uma boa novidade. Além de que abre espaço para aqueles que internamente, seguindo padrões de honestidade, já contestavam o líder absoluto há vários anos.
Por ora, está a desmoronar-se a estrutura que rodeava o presidente da FIFA. Mais tarde ou mais cedo, será o próprio a perceber que o seu campo de manobra é cada vez mais restrito. Ignoro o que o futuro reserva a toda esta história, mas dificilmente, muito dificilmente, tudo voltará a ser como dantes no dia em que Blatter, empurrado ou por decisão individual, abandonar o trono."
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