"(Carta aberta ao presidente da FPF)
Exmo. Sr. Fernando Gomes: Portugal orgulha-se de ter sido nação pioneira na abolição da escravatura (os registos históricos apontam 1869 como ano de tal feito) e da pena de morte (1867). É, por isso, com algum espanto que vejo que, quase 150 anos depois, nos mantenhamos cegos, surdos e mudos quanto a injustiças e crimes que, aqui e ali, destroem sonhos, vidas ou nações.
Sem grandes rodeios: seria uma vergonha para o País e para o nosso desporto que a FPF não tomasse posição clara sobre a tragédia humanitária que se vive no Catar, o país que, em 2022, receberá (será que recebe mesmo?) o Mundial.
Porque o escândalo - a tal ponta do iceberg destapada na madrugada de anteontem pela justiça dos EUA - de corrupção que, como um tsunami, abalou o edifício do futebol em Zurique, quando comparado com o escândalo de escravidão e morte que ensombra à organização do Mundial-2022, é... peanuts.
Segundo dados de organizações de direitos humanos e de conceituados órgãos de comunicação, o que se passa no Catar é crime. Na construção de estádios, há trabalhadores sem liberdade - o passaporte é-lhes retirado, deixando-os nas mãos de quem os contrata. Por cá, chamamos a isso... escravatura, mas esse até pode ser o mal menor de quem emigra para aquele emirado para trabalhar no sonho do Mundial: é que, desde o início das obras e de acordo com The Guardian, New York Times e Washington Post, já morreram cerca de 1200 seres humanos. Sim, MIL E DUZENTOS. E sabe que, se a chacina continuar ao ritmo atual, em 2022 teremos todos (os que nada fizerem...) nas nossas próprias mãos o sangue de 4000 homens e mulheres?
Descobrir e condenar os culpados desta tragédia é obrigação judicial. Boicotar o Mundial-2022 é, no mínimo, uma obrigação moral.
A FPF, cumprindo o legado dos nossos antepassados, poderia dar um exemplo ao Mundo e ser a primeira a anunciar o boicote. Mesmo!"
João Pimpim, in A Bola
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