"Em Nova Iorque, a seleção europeia viveu uma montanha russa de emoções, conseguindo, no meio de insultos e de um último dia terrível, o 11.º título na prova de golfe que junta os melhores do velho continente e dos Estados Unidos, vencendo por 15-13. A competição foi dura, mas o comportamento dos adeptos, numa América polarizada, fez ainda mais manchetes
Quando Shane Lowry, barba impenetrável, corpo de jogador de futebol americano, mas irlandês de gema, equilibrou de forma milimétrica a força e o jeito necessários no putter para que a sua bola se fosse aninhar sem espinhas no buraco 18, o festejo exuberante que se seguiu tinha dentro de si uma série de sentimentos.
Alegria, seguramente, afinal de contas a Europa acabava, com aquele meio ponto arrebatado, de revalidar a Ryder Cup, a competição de golfe que coloca frente a frente os melhores dos Estados Unidos e do velho continente a cada dois anos. Também alívio, porque aquela vitória, quase garantida no sábado, esteve prestes a fugir no domingo - e teria sido uma reviravolta humilhante. E, por fim, porque não, de doce vingança face a um público norte-americano agressivo e hostil, uma extensão do discurso do seu presidente, aficionado do desporto e o primeiro líder dos Estados Unidos em exercício a comparecer na prova. O normalmente paciente e disciplinado público do golfe pareceu, por vezes, tomado por bullies.
Esse mesmo público nem esperou pelo final. Mal ficou consumada a certeza que a Ryder Cup voltaria com os europeus no avião, muitos abandonaram o Bethpage Black Course, em Long Island, em Nova Iorque. Desta vez em silêncio. Daqui a dois anos, garante Shane Lowry, tudo será mais calmo na sua Irlanda, que receberá a próxima edição.
Os dois primeiros dias da competição foram de intenso domínio dos golfistas europeus, acumulando vitórias nos pares dos formatos de foursomes e fourballs. A Europa partiu para o último dia, dos 12 duelos de simples, um jogador contra o outro, a valer um ponto cada um, com uma vantagem (11½ contra 4½) aparentemente fora do alcance de uma seleção norte-americana que ia acumulando erros e nervos, que foram ressoando em quem assistia.
Foi já na reta final do dia de sábado, com o avolumar do resultado, que o ruidoso público se tornou ostensivamente provocador, belicoso. A principal vítima foi o norte-irlandês Rory McIlroy, insultado, incomodado em pleno jogo, inclusive pela comediante Heather McMahan, animadora de serviço e que liderou a multidão com gritos de “Fuck you Rory!”, antes de ser afastada pela organização. A mulher de McIlroy, de nacionalidade norte-americana, foi mesmo atingida com um copo de cerveja. A segurança teve de ser reforçada e McIlroy chegou a jogar com uma linha de polícias a separá-lo dos adeptos. Vários deles acabaram expulsos das bancadas.
“Não acho que devamos aceitar isto no golfe”, sublinhou McIlroy. “O golfe tem a capacidade de unir as pessoas, ensina muitas lições de vida. Ensina-te etiqueta, a jogar segundo as regras. E ensina-te a respeitar as pessoas. Em alguns momentos desta semana não vimos isso”, disse ainda, lembrando, após o final da competição, que a Europa “conseguiu calar” os adeptos menos educados com o seu desempenho. “Eu respondi algumas vezes, mas tentámos gerir tudo com classe e elegância e acho que, na maior parte das vezes, conseguimos”.
Keegan Bradley, capitão da seleção norte-americana, minimizou o comportamento do público local, justificando-o com a sua “paixão” e com o facto da equipa da casa estar “a levar uma coça”. E antes do domingo decisivo, não se deu por vencido, apesar do resultado: “Coisas malucas acontecem no desporto a toda a hora”.
A quase recuperação
Bradley não esteve longe da verdade, pelo menos no que ao desportivo diz respeito. Coisas loucas acontecem e estiveram mesmo para acontecer. O desempenho a tocar a perfeição da equipa europeia quase terminava em vexame no último dia de competição. A precisar de apenas 2½ para chegar aos 14 pontos que garantiriam o triunfo, a Europa viu-se a perder duelo atrás de duelo, mesmo tendo garantido meio ponto mesmo antes de começar a jogar, com a lesão do norueguês Viktor Hovland a impedir o duelo com Harris English - segundo as regras, nestes casos o confronto acaba em empate, ou seja, meio ponto para cada seleção.
Foi ao oitavo duelo que Shane Lowry conseguiu finalmente o meio ponto necessário para chegar aos 14, depois de cinco vitórias norte-americanas, uma europeia e um empate. O resultado final acabaria em 15-13 para a Europa, mas esteve muito perto a maior reviravolta de sempre da Ryder Cup, que continua assim a pertencer à seleção europeia, que em 2012, em Medinah, também nos Estados Unidos, recuperou de um 10-6 no início do último dia, conquistando 8½ pontos dos 12 em disputa no domingo para bater os rivais.
A Europa tem agora 11 vitórias nas últimas 15 edições da Ryder Cup."

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