"Irá algum destes quatro nomes a tempo de se afirmar na Luz?
A instabilidade que se tem vivido no último ano e meio na realidade benfiquista tem impossibilitado a valorização, enquanto ativos, da generalidade do plantel, no qual muitos jogadores com provas dadas do seu inerente talento têm abandonado o destaque mediático de outrora para se submeterem a período de menor fulgor.
Se não têm faltado as contratações sonantes, o desiquilíbrio na constituição dos grupos de trabalho, com excedente de jogadores em determinadas posições em detrimento de outras, ou de características completamente desajustadas às ideias dos técnicos – De Tomás ou Everton Cebolinha como gritantes exemplos – ajudam a explicar os fracassos desportivos que se têm vivido nos últimos tempos.
Decidimos eleger quatro jogadores que em certa altura demonstraram talento suficiente para escreverem história de relevo com a camisola do SL Benfica e que por uma razão ou outra demoram em afirmar-se como peças essenciais da equipa – quem diz essenciais diz de uma outra utilidade, diferente da atual, sem o impacto que se previa na maioria dos casos, o que vai causando impaciência na já consternada massa adepta.
1. Roman Yaremchuk
O outro joker do leque de avançados que tarda em cumprir-se o ponta de lança de elite que demonstrou ser na Bélgica e ao serviço da Ucrânia no último Europeu. Pela sua seleção, Roman exibe-se habitualmente a um nível que não se traduz, inexplicavelmente, para o contexto de Liga Portuguesa.
Basta recorrer novamente a números para comprovar esta dualidade competitiva, num exemplo em tudo semelhante ao de Gonçalo Ramos: diferenças no compromisso defensivo? 1,6 tackles e 1,4 faltas em média nos cinco jogos de 2021-22, na Qualificação para o Mundial.
Em Lisboa conta 0,5 e 0,4 nos mesmos parâmetros, o que pode indicar uma menor participação nesse aspecto, seja por vontade do jogador seja por ordens técnicas.
A nível ofensivo, Yaremchuk regista pelo seu país 23 tentativas de passe por jogo, acertando 19 deles, uma percentagem de sucesso de 83% e representativa das suas competências nas tarefas de apoio, de costas para a baliza, qual pivot – pelo SL Benfica o número baixa até aos 11,2 passes por jogo, com 8 certos em média.
Remata também mais em contexto internacional (2,2 vs 1,9) e marca, naturalmente, mais vezes (dois golos nos cinco jogos, contra sete em… 26 de águia ao peito). Ainda assim, as seis finalizações certeiras para a Liga, em 12 jogos de 19 possíveis, mostram que o registo pode melhorar se a afirmação for plena a nível de minutos, o que ajudará à consistência competitiva (tem 670’ contabilizados nestas circunstâncias, uma média de 55 por jogo).
Muito por desbravar ainda pelo ucraniano, ficando a faltar apenas a estabilidade desportiva e institucional que lhe permita adaptar-se da melhor forma à nova realidade.
2. Gonçalo Ramos
Ok, conseguir 22 remates mas apenas 12 deles serem à baliza não é o melhor dos registos. E sim, finalizar com sucesso apenas duas vezes em 1029 minutos pode não inferir, a frio, grandes potencialidades como ponta de lança – mas por aqui podem enveredar os argumentos e linha de raciocínio daqueles que ainda conseguem reconhecer a Gonçalo Ramos o talento e potencial para um dia ser o matador de serviço do SL Benfica.
É que a recente aposta em Gonçalo para vagabundo responsável pelas ligações entre intermediária e última linha, como servente de Seferovic ou Darwin, não implica grande proximidade com a baliza, muito menos quando inserido em performances coletivas bisonhas.
Mais, o seu registo ao serviços da seleção sub21, onde joga a maioria dos desafios como um dos últimos homens (em cunha com Fábio Silva), suportado por um losango de criativos muito acima da média e tendo a baliza como prioridade, ajuda a perceber o que tem falhado: nesse contexto Gonçalo leva oito golos em cinco jogos e é o melhor marcador da Qualificação para o Europeu da categoria.
Os concorrentes diretos, para se ter uma noção exata do feito, são Zirkzee, coqueluche do Bayern emprestado ao Anderlecht de Kompany, que leva sete no mesmo número de jogos; Elanga, titular nos últimas duas partidas do United, que leva seis em sete jogos pelas esperanças suecas; e Loïs Openda, prodígio do Brugge que está emprestado ao Vitesse (leva 11 golos na Eredivisie 2021-22) e que conta os mesmos 6 com menos um jogo.
A rever pelos responsáveis encarnados.
3. Valentino Lázaro
Cinco vezes campeão austríaco pelo Salzburgo, passagens por Berlim (Hertha), Monchengladbach, Newcastle e Milão.
A este currículo digno de análise contam-se 32 internacionalizações pelo seu país – e muitos se devem perguntar como é que um jogador de 25 anos com toda esta escola sente dificuldades em se impor no terceiro classificado português, numa época onde até janeiro foram utilizados sete laterais-direitos diferentes.
Participou em 16 jogos, num total de 559 minutos – que dá uma média de 34 por jogo ou aproximadamente… seis completos. Culpa própria ou de quem o gere?
4. Ferro
Com o aparente dissipar da excelência competitiva imprimida por Bruno Lage veio o ocaso de Francisco Ferreira, um dos seus bebés por ele apresentado à plateia da Luz e um dos quais que, às custas do seu talento, possibilitou a épica reconquista do campeonato.
A partir de 2020, apagou-se a chama: fosse pelos métodos mais rígidos – ou já de outros tempos – que Jorge Jesus fazia questão de impor ou pela insatisfação do técnico com a veia seixalense dos seus pupilos – dos bebés de 2018-19 ou 19-20 só Nuno Tavares se manteve com minutos.
Ferro ficou em Lisboa mas sem quaisquer oportunidades de mostrar as valências que o fizeram, em certos momentos, equiparar-se e complementar perfeitamente Rúben Dias. Atento a essas valências estava o Valência, mas a aventura também não correu bem: três participações, duas titularidades – e duas derrotas, com Real Madrid e Sevilha.
Voltaria à Luz para se manter na obscuridade, como quinta opção. Veríssimo, Otamendi e Vertonghen deixam dúvidas a poucos, mas Ferro, por tudo o que mostrou em condições ideais, mereceria outro tipo de reconhecimento.
Ao lado de outro talentoso como é Morato viu André Almeida ocupar-lhe a posição na última fase de Jorge Jesus, numa claríssima e escarrapachada mensagem de rejeição. Precisa de mudar de ares, afirmar-se noutro contexto e voltar, com a mesma confiança com que se impôs naquele início de 2019, quando saía a jogar de pantufas onde outros aliviam em esforço."
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