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sábado, 27 de novembro de 2021

Justiça, negócios e um recado para os bufos. (...): “O que se passa, afinal, com o nosso futebol?”


"A chuva e o cinzento do céu não são propriamente potenciadores de serotonina, o que de algum modo ajuda a justificar a propensão emocional para a crónica de hoje.
Podia escrever-vos sobre muitas coisas. O que não faltam por aí são temas atuais e interessantes, que poderíamos dissecar em conjunto. Mas há coisas que nos afligem mais, que nos tocam de forma diferente. E eu - que tenho o privilégio de poder exprimir-me publicamente, sem cortes nem censuras - sinto-me compelido a abordá-las neste texto.
Queria convidar-vos a refletir sobre a constante intromissão da justiça nos negócios do futebol.
Vamos tentar perceber os porquês:
- O que terá o futebol português de tão errado que convide a tantos raides por parte das autoridades? Haverá fumo sem fogo a toda a hora? Ou há, de facto, ilícitos relevantes que devem ser apurados? As suspeitas da justiça portuguesa não passarão disso mesmo? Ou, no fim de tanta neblina, haverá acusações formais?
O que se passa, afinal, com o nosso futebol?
Início de raciocínio: assim, de cabeça, conseguem contar quantas ações foram levadas a cabo desde o horribilis Apito Dourado, em 2004?
Eu não, por isso googlei.
Sem qualquer tipo de ordem cronológica e apenas contabilizando iniciativas judiciais (não as eventuais consequências jurídicas), encontrei:
- "Apito Dourado", o "Caso Cardinal", a operação judicial decorrente da divulgação não autorizada de dados pessoais de árbitros e observadores, o "Caso dos Emails", o "Caso dos Vouchers", o "Caso E-Toupeira", o "Jogos Viciados", o "Mala Ciao", a "Operação Lex", o "Saco Azul", a "Operação Fora de Jogo", a "Operação Cartão Vermelho", a "Operação Cartão Azul", o "Apito Final", o "Cashball", o "Jogo Duplo" e a operação "Covid Free".
Sou capaz de jurar que me escaparam uns quantos e, a ter acontecido, foi por manifesta incompetência na busca ou porque as ditas operações tiveram menor notoriedade mediática.
Há uma conclusão que salta logo à vista: isto não é normal! Não assim, não com esta frequência. Concordam?
E essa conclusão levanta outras questões: então mas acontece porquê?
As pessoas ligadas à indústria não são, por princípio, sérias e íntegras? Não atuam dentro da legalidade, como devem e têm de atuar? A tentação será assim tão grande ao ponto de criarem estratégias para contornar a lei?
E a justiça... será leviana ao ponto de autorizar e realizar buscas (ou até efetuar detenções), sem bases fortes nesse sentido? Será inconsciente ao ponto de arriscar operações com aparato público, sem indícios fortes? Não terá noção que, não havendo seguimento judicial posterior, a sua imagem e credibilidade ficarão fortemente beliscadas?
E o papel do Estado/Governo e das instâncias que regulam o futebol? Foi tudo feito no sentido de prevenir qualquer tipo de criminalidade e de punir eficazmente quem prevarica? Os mecanismos de controlo de questões mais sensíveis (como a transferência de jogadores ou o pagamento de comissões) são suficientes? São eficazes? Tudo o que pode ser feito em matéria legislativa e desportiva foi feito?
Se sim... porquê esta eterna suspeita das autoridades em negócios no futebol? Porquê?
Porque é que a esmagadora maioria dos adeptos tem uma visão descrente em relação à idoneidade de alguns dos agentes do jogo? Será por mera rivalidade desportiva? Será porque ouvem os canais errados? Ou será porque dia sim, dia não, conhecem novas alegações e novos casos cinzentos?
A indústria terá noção que, cá fora, reina uma sensação de desconfiança generalizada, que dura há décadas? O jogo mudou, os meios e ferramentas evoluíram e as suspeitas mantêm-se. Aumentaram até. Porquê? É suposto ser este um dano colateral inevitável? É assim em todos os outros campeonatos?
Há respostas para serem dadas e a verdade é que elas não podem vir de um só lado.
Como já perceberam, esta reflexão nada tem a ver com clube A ou B, com dirigente C ou D, com empresário E ou F.
Não metam clubismos nem rivalidades desportivas num tema maior, que toca em questões mais profundas e estruturais. Nesta matéria aliás quase ninguém fica a rir de ninguém.
O que se pede e espera é que tudo se resolva com celeridade, justiça e eficácia. Se há negócios ilegais ou comportamentos ilícitos, que sejam punidos em sede própria. Rapidamente. Se não há, que se restitua aos atingidos o direito ao seu bom-nome, entretanto atropelado em praça pública.
Mas que se faça rápido e bem. E que se mudem instrumentos, práticas e se preciso, pessoas. Quem está à frente do jogo não é o jogo. Esse vai continuar a existir, para bem de todos nós, que o adoramos.
Nota final - Convinha também que a própria justiça tentasse resolver esse enorme problema chamado bufos.
É vergonhosa a forma como meia dúzia de ratos de esgoto insistem em colocar cá fora informações que estão em segredo e que destroem meses de preparação, dando tempo aos bandidos para se precaverem.
Não há nada como arrumar bem a casa antes de ir visitar a dos outros."

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