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terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

To be a show, the show must put on a show

"Eis-nos então novamente nesta altura do ano. Qual? Ora, aquela segunda-feira em que chegamos todos ao trabalho cheios de sono, e já lá vão dois cafés, por termos ficado acordados de madrugada a ver a final de um desporto que não acompanhamos minimamente durante o ano, em que a cada cinco minutos de jogo há paragens em quatro, e, enfim, sobre o qual não conhecemos bem as regras.
Na verdade, a minha Super Bowl preferida foi aquela em que ganhou a Beyoncé. Vá, os puristas que me perdoem - nomeadamente a minha excelsa colega Lídia Paralta Gomes, sumidade no assunto, como se pode verificar AQUI, que até teve a bondade de me explicar devagarinho o que é um pick six -, mas a minha maior razão para ver a Super Bowl (bom, a minha e a de uns quantos milhões, suspeito) é o espectáculo (e digam-me lá uma atleta mais atleta do que JLo, com 50 anos...).
Sim, os Kansas City Chiefs viraram a final nos últimos minutos de forma incrível, e isso também é, obviamente, um espectáculo (que me deixou triste, confesso, não só pela cara de Kendall Roy derrotado em Kyle Shanahan, mas porque os San Francisco 49ers também têm uma mulher como treinadora, que fez história), mas eu só vi esse espectáculo por causa do outro espectáculo - espectáculo esse que é montado nos 30 minutos de intervalo com uma velocidade e eficiência impressionantes.
Confuso? Nem por isso: é tudo uma questão de saber vender o nosso produto. Algo em que também pensava na madrugada anterior, enquanto via um outro espectáculo chamado NBA, no qual qualquer timeout serve para criar um mini espectáculo dentro do espectáculo principal.
Ora, como não podia deixar de ser (pelo menos no meu cérebro é assim), isto tudo leva-nos ao futebol, particularmente ao nosso futebol: ie, uma Liga em que o jogo grande da jornada, Sporting de Braga-Sporting, é mais divulgado pela actuação errática do árbitro do que por outra coisa qualquer (eis outra coisa em que o futebol americano já vai bem mais à frente: todos ouvimos o árbitro a falar e a revelar aos adeptos as suas decisões) e outro, Santa Clara-Paços de Ferreira, que vai sendo indefinidamente adiado à noite, devido ao mau tempo, sob olhar atento das câmaras televisivas, que vão filmando a aplicação em campo de cal viva, uma substância que já é proibida há quase uma década, e acaba por ser jogado no dia seguinte, num relvado com menos condições do que alguns distritais.

É um espectáculo, não é?
No final, Pedrinho, jogador do Paços de Ferreira, desabafou assim: "Esta noite acordei duas ou três vezes e parecia que o hotel ia abaixo. Não sei porque é que o jogo não foi adiado hoje. Sinto-me envergonhado por ser português. Nós vamos lá para fora, para o estrangeiro, por estas razões, não é só por causa das questões financeiras. Acontece, as pessoas tapam os olhos e faz-se de conta que não se passa nada. Chegamos aqui, o campo não está marcado. Choveu 95% dos dias no Norte. Nunca vi o campo do Paços, nem um dos distritais, por marcar. É ridículo, ridículo o que se passou aqui. As coisas acontecem, não quer dizer que tenhamos perdido bem ou mal. Amanhã não sai nada nos jornais. Se fossem os grandes, havia sete ou oito páginas nos jornais. Como é o Santa Clara-Paços, toda a gente tapa os olhos. Vemos o João Félix sair por €120 milhões para a liga espanhola, temos tudo para ser um bom exemplo... mas não somos".
E se seguíssemos os bons exemplos?"

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