"O caso que opõe doze clubes da Divisão de Elite da AF Porto (AFP) ao Canelas chegou a um nó difícil de desatar. Do ponto de vista estritamente legal, os órgãos jurisdicionais da maior associação do País, que deliberam mediante o relatórios que lhes chegam, não têm muita margem de manobra. Porque os árbitros e os jogadores alegadamente coagidos não querem ser associados a queixas contra o clube de Gaia. Do ponto de vista da decisão executiva, a direcção liderada por Lourenço Pinto propôs, para que fosse retomada a normalidade da competição, aquilo que podem ser consideradas medidas sólidas e de bom senso, que não receberam, contudo, acolhimento por parte do «grupo dos doze». e que medidas são essas? Ter, em cada jogo em que intervenha o Canelas, um dirigente da AFP presente, bem como três delegados da Associação, que se encarregariam da verificação da normalidade dentro do campo e não só, no túnel e na zona dos balneários também; nomear especificamente para estes jogos um árbitro do Nacional, em princípio mais apetrechado do que os juízes de campo dos Distritais; triplicar o aparato policial no anfiteatro, ficando ainda disponível uma brigada do Corpo de Intervenção. A todas estas medidas providenciadas pela AFP acresceria ainda uma outra, da iniciativa da Câmara Municipal de Gaia, que se propunha encontrar meios para que todos os jogos fossem gravados em vídeo. Estas medidas, que até seriam suficientes para um jogo entre Israel e a Palestina, a disputar na faixa de Gaza, não terão sido, porém, consideradas suficientes pelo «grupo dos doze», que invoca a coação que é feita dentro do campo pelos jogadores do Canelas, e que não se vê do exterior, como factor impeditivo do normal andamento das partidas.
Como se vê, estamos perante um caso bicudo, que está a testar a capacidade e a imaginação da equipa de Lourenço Pinto. A AFP, a maior do País, com 30 mil atletas inscritos, 14 mil dirigentes envolvidos e mil árbitros em funções, que dão corpo a 35 competições distintas, debate-se com um problema de imagem provocado por este imbróglio, susceptível de desfocar atenções de todo o notável trabalho que tem realizado ao longo dos anos, nomeadamente no âmbito da formação.
E que poderá fazer Lourenço Pinto? usar a bomba atómica e suspender a competição (afectando 28 clubes)? Ou esperar que as medidas extraordinárias que estão sobre a mesa acabem por contentar o «grupo dos doze»? Entre a necessidade de preservar a Divisão de Elite e a obrigação de serem criadas condições de normalidade para a realização dos jogos que envolvem o Canelas, permanecendo fiel ao quadro legal vigente, está-se perante uma espécie de quadratura do círculo. O que fazer, então?
Será que alguém terá já pensado em marcar os jogos do Canelas para a mesma hora dos jogos do FC Porto?"
José Manuel Delgado, in A Bola
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