"Terá custado constatar que o Benfica voltou a ter nos seus quadros pessoas de carácter, pessoas com princípios e, acima de tudo, pessoas humildes.
Na semana passada...
Permitem-me começar o artigo desta semana, citando a parte final do que escrevi na semana anterior, em post scriptum:
«Já o disse antes do encontro da primeira volta e volto a repeti-lo, agora.
E como se comprovou - pela classificação depois da última jornada - tinha... toda a razão do mundo!
O resultado do jogo do próximo sábado contará para a história dos dois clubes, mas não contará para a história deste campeonato.
Essa será feita com a hierarquização das últimas épocas.
Perceberam???»
Disse-o antes do jogo de Alvalade, para que não duvidassem de qual era a minha opinião sobre o respectivo resultado, fosse ele qual fosse.
E não mudei!!!
Humildade... à Benfica
De facto, o resultado do jogo do passado sábado veio confirmar que o mesmo marcará a história dos dois clubes, mas de formas diferentes.
Se de um lado, fica a ideia de que o derby de sábado era o jogo decisivo deste campeonato (veja-se a forma como os adeptos leoninos sentiram a necessidade de receber a equipa do Sporting à moda Euro 2004, em Alvalade, aquando da chegada do autocarro que transportava os jogadores para o interior do estádio), do outro foi inequívoca a tranquilidade com que se encarou este confronto.
Tranquilidade esta que, aliás, foi personificada na pessoa do treinador Rui Vitória, através do seu discurso realista e humilde, por oposição àquele que caracteriza o treinador adversário.
E é precisamente aqui que residirá a chave deste campeonato, uma vez que não é só com tranquilidade que se ganham jogos... e campeonatos! Esses ganham-se, fundamentalmente, com outro estado de espírito: a Humildade.
Humildade para perceber que após o apito final do árbitro, faltam ainda 9 jogos para disputar.
Jogos estes que serão, inevitavelmente, encarados como se de 9 finais se tratassem.
Porque é assim que tem de ser.
E é esta a única forma de se alcançar o sucesso no futebol.
Duas formas distintas de ser e de.... encarar o jogo
Voltando um pouco atrás, dizia que as equipas tinham encarado o jogo de formas distintas.
E não me referia apenas à sua preparação.
A reacção ao resultado do jogo diz muito sobre a postura de uma e outra equipa, de uma e outra estrutura, de um e outro treinador e, finalmente, de uma e outra massa associativa.
Bastou soar o apito final desse encontro para compreender porque uns fazem dos jogos contra o Sport Lisboa e Benfica o seu campeonato.
Os mesmos que se vangloriaram pelas três vitórias alcançadas contra o Benfica na presente temporada (como se de verdadeiros títulos se tratassem, com excepção da conquista da Supertaça de Portugal) foram os mesmos que se mostraram destroçados, apáticos e agindo contra os seus próprios princípios, quando, ao terminar a partida do passado sábado, se levantaram após alguns minutos de reflexão, recolhendo ao balneário, esquecendo-se dos adeptos que têm sido o pilar que sustenta a equipa do Sporting e a sua estrutura, mesmo apesar das barbaridades sucessivas perpetradas por quem os dirige.
Essa forma de estar é demonstrativa da diferença entre estes dois clubes.
Todos os que integram o Sport Lisboa e Benfica sabiam (e continuam a saber) que os campeonatos se conquistam jogo a jogo, com a enorme humildade que nos caracteriza.
Por outro lado, quiçá por força do hábito do seu actual treinador, para o Sporting CP, este era o jogo das suas vidas, como mais nenhum outro, olvidando-se que o caminho só termina no final e não depende apenas da vitória nos jogos com o seu maior rival.
Para o Sport Lisboa e Benfica tratou-se, sem dúvida de um jogo importante, mas não pelo facto de o ser contra o rival.
Este, como outros, assumiu a importância do que lhe estava subjacente, ou seja, os três pontos!
Se o jogo terminasse com o empate, ou até mesmo com a derrota, continuaríamos na luta, embora não dependendo apenas de nós, mas é essa a postura com que o Benfica entra em cada jogo.
A nossa história assim o impõe!
A verdade é que o resultado foi o desejado, mas não nos esquecemos que o caminho ainda é longo e que o percorreremos sem abdicar dos princípios que nos norteiam: a tal humildade, a raça e o querer vencer, acima de tudo, em todos os jogos e não só em alguns.
9 jogos, 9 finais
Daqui para a frente, independentemente da maior ou menor dificuldade que os nossos adversários nos causem, a postura será sempre a mesma.
Bem sei, que agora que alcançámos o topo da tabela classificativa, irão surgir os mais diversos ataques, que colocarão em causa o que até aqui foi feito e o que está, ainda, por fazer (até porque não haverá mais confrontos directos dentro de campo entre os principais candidatos ao título).
Aliás, os tais ataques já começaram a surgir, na tentativa de colocar pressão sobre os árbitros e sobre o Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol... como se a actual classificação do campeonato se devesse a factores que não estejam directamente relacionados com o nível competitivo apresentado pelas equipas...
Mas a humildade que nos caracteriza, aliada à convicção da qualidade existente no seio da equipa, não permitirá que o objectivo traçado no momento em que, no final da época passada, ficou garantido o 34.º título de campeão nacional (que orgulhosamente os nossos jogadores envergam nas suas camisolas em cada jogo disputado), seja colocado em causa.
É isso que nos move.
Em momento algum olharemos para trás com preocupação relativamente ao que os que lá vêm possam fazer.
O que nos preocupa, no imediato, é o importantíssimo confronto com o Tondela da próxima semana.
Porque de nada terá servido vencer o Sporting se não conseguirmos somar mais três pontos em cada jornada que resta até ao final do campeonato.
Todos recordarão o que foi dito no início desta época: o Sport Lisboa e Benfica não se conseguiria reerguer após perder quem se achava e acha imprescindível.
Como se de imprescindíveis não estivessem os cemitérios cheios.
Alguns tentaram fazer crer que o segredo para o sucesso residia precisamente aí.
Houve outros que, certamente, se deixaram ir nessa conversa.
A resposta foi sendo dada jogo após jogo, jornada após jornada e, com a mesma humildade que nos colocou no merecido lugar após o jogo de sábado, tudo faremos para que no final se façam as contas, tal como afirmou Rui Vitória, precisamente, na antevisão desse jogo.
Compreendo a frustração dos que assim pensavam... Terá custado, certamente, constatar que o Benfica voltou a ter nos seus quadros, sem excepção, pessoas de carácter, pessoas com princípios, acima de tudo, pessoas humildes.
De resto, só pessoas com estas características bem vincadas conseguiriam guiar o Benfica no rumo que havia sido traçado no que respeita à política desportiva há muito desejada: a aposta na sua formação... com resultados muito satisfatórios.
Prova disso é a qualidade apresentada pelos jovens que, sucessivamente, têm sido lançados na equipa principal, sem deixar aquém as expectativas neles depositadas.
Isso só é possível com a tal humildade que lhes está intrínseca, mas que também lhes é incutida dia após dia por quem os acompanha no Sport Lisboa e Benfica.
A todos eles, gostaria de deixar a seguinte mensagem: contamos convosco para as 9 finais que faltam disputar!
Não querendo lançar os foguetes antes da festa - e independentemente da vitória no final do campeonato - a forma de estar no futebol (e na vida) diz muito.
E a esse respeito o Benfica voltou a ser o maior de Portugal, ou melhor... maior que Portugal!
PS: São Petersburgo mostrou a dimensão europeia do Benfica. Ao sucesso na Champions iremos por certo buscar forças para todas as provas em que continuamos envolvidos. Sem nos deslumbrarmos, sempre de pés bem assentes no chão com humildade. À Benfica!"
Rui Gomes da Silva, A Bola
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