"Era uma vez uma 2.ª Circular, apesar de a 1.ª nunca ter visto a luz. Um dia, o presidente de Lisboa resolveu colocar esta circular nos eixos. Uma iniciativa com indiscutível mérito, colocada à discussão pública, 10 semanas antes do veredicto final. Não que fosse decisiva, mas poderia contribuir para um itinerário mais seguro, cosmopolita e de acordo com a tradição de uma via urbana e não de episódicos ralis. Curiosamente, o que mais celeuma suscitou foram os arboretos no eixo central. Sobretudo, de Carnide até ao Campo Grande e ao aeroporto. Não tanto por causa das árvores (lódãos, mas não carvalhos), mas por servirem de nidificação a aves agoirentas ou de rapina.
Houve acesas proclamações sobre este assunto no Facebook, exigiu-se (e bem) uma arbitragem isenta para a decisão, estimularam-se febrilmente verdilhões e toutinegras para colidir com drones, bem como cucos e patos para defecar nas bermas. No imaginário que fervilhou a propósito do perigo aéreo de um conhecido passarão, gerou-se uma acesa controvérsia com bicadas à mistura e tudo por causa da excessiva abertura das asas da dita ave vinda do Magrebe. Já perto do momento da resolução, nova angústia desta vez gerada por uma ave-peixe de nome imperador que, qual mergulhão, tombou e de um novo pássaro estreante a que alguns verdilhões, maio viram, insinuaram ser um desprezível maçarico, frango ou peru. Enganaram-se, era um calmíssimo rouxinol-de-encontro-amarelo que calou o papagaio e emudeceu o narciso.
No fim, deu-se a Odisseia do grego e voou a águia Vitória. Em paz, sem euforia. A cota da 2.ª Circular foi, até ver, alterada: de -7 para +2."
Bagão Félix, in A Bola
muito bom...eheheheheheh
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