"Vem aí o inferno. Não são os jogos do Mundial, de que gosto. E talvez até venha a gostar mais este ano. Estou optimista. A equipa portuguesa pode não ser jovem, mas é uma equipa. Com atletas habituados a jogar entre si. O inferno também não é a barrigada de jogos. Essa agradeço. O inferno são muitos dos nossos queridos concidadãos que, sentados em frente ao televisor, fazem uma pausa nas suas vidas e descobrem que existe futebol.
De que lado é a nossa baliza? Por que é que não foi golo? O que é isso do fora-de-jogo? Não gostam de futebol. O que gostam mesmo é da nossa Selecção. Os Mundiais e os Europeus estão para quem gosta de futebol como o fim de semana está para o automobilista experiente, com a estrada cheia de gente a fazer asneiras a 40 Km/hora. É uma espécie de Dias da Música, do CCB. De repente a arte abre-se, generosa, à ignorância. Não estou a dizer que é mau. É excelente. Mas ouvir Schubert acompanhado pelo choro insistente de uma criança pode tornar-se desagradável.
É o que acontece por estes dias, quando a minha mãe, tentando concentrar-se em movimentos de várias pessoas num relvado, para ela absolutamente indecifráveis, me pergunta pela terceira vez: os nossos estão de encarnado, não é?
É durante os Mundiais e os Europeus que descobrimos que, ao contrário do que pensamos no resto do ano, há uma metade do país que não liga peva a futebol. De repente, eles saem todos da toca. Espantados, percebemos que, quando vimos um dérbi e sofremos, eles estavam a fazer outra coisa qualquer. Talvez a pôr fotos do Cristiano Ronaldo no Facebook. São estas pessoas que eu quando digo que a minha selecção é o Sporting me fazem em esgar semelhante ao de Cavaco antes de desfalecer. Não percebem por que sofro. Este é o mês em que o Sporting não joga.
Não me tomem por fanático. Sou solidário com todos os benfiquistas e portistas que vivem no mesmo sentimento de orfandade. As suas selecções estão paradas. Espalhadas por várias equipas nacionais. Para entreter estes bárbaros que não percebem que a unidade natural do futebol é o clube. É neles, com jogos semanais durante um ano inteiro, que um conjunto de jogadores se transforma numa equipa e produz equações perfeitas. As selecções são uma espécie de salada de frutas. Pode ser agradável, mas os sabores perdem-se."
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