"«Quando aparece no Mundo um verdadeiro génio é possível reconhecê-lo através deste sinal: todos os estúpidos se unem contra ele.»
É assim que começa o livro de John Kennedy Toole «Uma Conspiração de Estúpidos ».
A frase é tirada de Jonathan Swift, alguém que percebia bem o que era a estupidez. Por isso, quando ouvi a fandangueira figura dizer, alto e bom som, que só os estúpidos falam de árbitros, fiquei com a certeza de que estava a preparar-se para falar daquilo que só os verdadeiramente estúpidos falam: ou seja, de árbitros.
Uma vez vi uma cena digna de um filme do Buster Keaton: um grupo de rapazes com camisolas às riscas corria atrás de um árbitro a todo o comprimento de um campo de Futebol; o árbitro era rápido, esquivava-se como uma lebre por entre galgos, corria aos ziguezagues, e a rapaziada às risquinhas atrás dele. Foi grotesco.
A fandangueira figura não falou de árbitros nesse dia. Mas, excepto ele, toda a gente falou. Estúpidos, é claro! Uma conspiração de estúpidos!
Um dos empregados da fandangueira figura fala de árbitros todos os dias. Mas esse não é estúpido, é só mandado. Nem todos os estúpidos falam de árbitros; outros falam, mas pouco. A regra mantém-se: são estúpidos que conspiram contra o génio que ilumina o Mundo.
A fandangueira figura fala de árbitros a torto e a direito, mas além disso fala com árbitros, o que o iliba de qualquer género de estupidez.
São assim os estúpidos: dividem-se em classes. Admito que seja um estúpido de primeira classe quando, volta e meia, falo de árbitros. Ou quando os vejo a fugir, ou então aos beijos e abraços aos rapazes de camisolas às riscas.
E pergunto-me: o estúpido serei mesmo eu?"
Afonso de Melo, in O Benfica
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