"A Taça da Liga provavelmente precisa de um outro vencedor que não seja o Benfica ou o Vitória de Setúbal para passar a ser uma prova importante para os demais
SEJA pelas circunstâncias, seja por esperteza, este ano os mind games estão refinados. Em comparação com temporadas anteriores registou-se um evoluir do conceito e da sua prática para patamares mais elevados, ainda que escorregadios.
Este ano tudo gira à volta de Jorge Jesus e de Vítor Pereira. É uma dupla em dose dupla no que diz respeito aos mind games.
Há a primeira questão do bate-papo entre os dois. E até neste capítulo há diferenças a registat. Estão ambos mais cordatos quando trocam recados através dos meios normais de comunicação, repararam?
Já ouvimos Jorge Jesus e Vítor Pereira elogiar o alto nível da competitividade nesta Liga que é a mesma coisa do que se elogiarem a eles próprios, o que é normal, mas elogiando também o rival, coisa que não é normal na nossa praça e que até pode ser mal interpretada pelas facções mais extremistas nos dois valorosos campos.
Com o Benfica e FC Porto a lutar pelo título num taco-a-taco bonito de se ver e com as duas equipas ainda envolvidas nas suas respectivas competições europeias - também é bonito de se ver -, os mind games da actualidade têm vindo a versar o velho axioma «não há rabo para duas cadeiras», proclamado por Bella Gutmann há mais de meio século quando foi acusado de ter perdido um campeonato para conseguir ganhar a sua segunda Taça dos Campeões Europeus para o Benfica.
O axioma de Gutmann tinha sido desmentido pelo próprio Gutmann no ano anterior em que ganhou para o Benfica o campeonato e a primeira Taça dos Campeões. Mas, compreende-se e aceita-se o desabafo em 1962. Tinha ganho ao Real Madrid a final da prova mais importante da Europa e ainda havia benfiquistas a chateá-lo por ter perdido o campeonato para o Sporting.
«Não há rabo para duas cadeiras», respondeu-lhes e foi assim que a frase entrou para a História.
Há coisas de poucas semanas foi Jorge Jesus quem relançou o axioma de Gutmann, expressando-o pelas suas próprias palavras de uma outra forma: «Quem sair mais cedo da Europa tem mais hipóteses de ganhar o campeonato», disse o treinador do Benfica. Fez bem em dizê-lo mesmo que nada garanta que venha a ser aplicável.
O FC Porto, por exemplo, já soube o que era perder um campeonato para o Benfica e ganhar uma Taça dos Campeões, em 1987, e somar as duas coisas com grande à vontade, como aconteceu em 2004. Quanto à Liga Europa, em que o Benfica está actualmente envolvido, o FC Porto já ganhou por duas vezes o troféu em anos - 2003 e 2011 - em que foi campeão em Portugal.
A discussão é, portanto, estéril. Tratando-se de futebol, nada é certo. E é tão possível ganhar-se tudo, como aconteceu ao FC Porto no ano de Villas Boas, como é possível perder-se tudo ou quase tudo, como aconteceu ao mesmo FC Porto em 1984, ano em que perdeu o campeonato para o Benfica e em que perdeu a final da Taça dos Vencedores das Taças para a Juventus e ano em que acabou por só ganhar a Taça de Portugal, vencendo o Rio Ave no Estádio de Oeiras.
Tendo em consideração todos estes factos passados, que vantagem pode recolher Jorge Jesus em vir à liça com este tema?
Lançando a questão, Jorge Jesus obrigou Vítor Pereira a expor-se, eis a vantagem. O treinador do FC Porto respondeu educadamente ao treinador do Benfica afirmando o seu desacordo frontal com a ideia de que para ganhar em território nacional é preciso perder no estrangeiro.
São estes os novos mind games. Se o FC Porto de Vítor Pereira ganhar o campeoanto e não ganhar a Liga dos Campeões - ou vice-versa -, Jesus acertou em cheio. Se perder as duas coisas, Jesus acertou duas vezes em cheio. Se o FC Porto for campeão nacional e europeu, aí o caso muda de figura...
A segunda questão que tem ligado os dois treinadores é idêntico, trata-se da respectiva continuidade nos seus postos de trabalho em 2013/2014. Falamos de contratos, pois claro. A imprensa não tem deixado passar em claro que, no final desta temporada, Vítor Pereira pode sair do FC Porto e Jorge Jesus pode sair do Benfica. Nenhum dos treinadores tem mostrado grande vontade em espraiar-se sobre renovações contratuais, tema que por vezes lhes é colocado por jornalistas atrevidos.
De um modo geral, a ideia da eventual saída de Jesus incomoda mais os adeptos do Benfica do que a ideia da eventual saída de Vítor Pereira incomoda os adeptos do FC Porto. Também a idea da saída de Jesus do Benfica directinho para o Dragão, incomoda muito mais os adeptos do Benfica do que os do FC Porto. E incomodará também, necessariamente, Vítor Pereira.
Isto anda esquisito. Este ano os mind games estão para durar.
O AC Milan prestou um grande contributo à Liga dos Campeões ao vencer o Barcelona por 2-0 no jogo da primeira-mão dos oitavos-de-final da competição em curso. É que 2-0 não é bem a mesma coisa do que 1-0.
Agora vê-se obrigado o Barcelona a golear os italianos para seguir em frente. Está garantida a emoção para o jogo de volta, em Barcelona. A não perder.
Poderá haver quem discuta se um resultado de 3-0 é, em boa verdade, uma goleada. Cá para mim é. Sobretudo se as equipas em campo são de primeiríssima classe, como é o caso. Foi de goleada que anteontem o Real Madrid foi a Nou Camp varrer o Barcelona da Copa do Rei, ou não foi?
Há, no entanto, opiniões diferentes sobre o assunto em função da localização geográfica e da valia dos rivais.
Quando há coisa de semanas o Benfica venceu o Vitória de Setúbal na Luz precisamente por esse resultado, 3-0, logo houve quem acusasse o Benfica de ter falhado a goleada descortinando na alegada magreza do resultado indícios claríssimos de uma crise de fôlego na equipa de Jorge Jesus.
Avolumaram-se os sintomas da tal crise anunciada depois de o Benfica só ter vencido pela diferença mínima - e logo por duas vezes, incrível! - e Bayer de Leverkusen: na Alemanha por 1-0 e na Luz por 2-1.
O Benfica carregadinho de tosse lá fez o que tinha a fazer, seguiu em frente na Liga Europa mas voltou a não escapar ao azedume de alguma crítica que viu nesses miseráveis sucessos prova suficiente para redeclarar o estado de crise na Luz.
No domingo passado, o Benfica voltou a ganhar por 3-0, desta feita ao Paços de Ferreira, o actual terceiro classificado da nossa Liga. E a questão que logo nasceu aqui não foi a eventual goleada ou a falta dela.
Bem analisado do ponto de vista científico, o resultado só veio acentuar a crise em que o Benfica se encontra porque, juram os cientistas, o Paços de Ferreira ofereceu-se e ofereceu o jogo e a vitória aos rapazes de Jorge Jesus o que faz com que o resultado de 3-0 não tenha mérito algum.
Voltemos à Europa, por favor, rapidamente.
Que o Barcelona é capaz de tudo sabemos. Já vimos muitas vezes Messi & Companhia despachar adversários poderosos por margens largas. É cedo, portanto, para dar finito o Barcelona nesta Liga dos Campeões. Venha de lá esse jogo da segunda-mão para vermos se o Milan e a sua vantagem - magra ou gorda se verá - sobrevivem em Nou Camp e se os fantasmas de Mourinho & Ronaldo ainda assombram a Catalunha.
Até lá, e também não falta muito, contentemo-nos com a belíssima piada de Mario Balotelli, contratado pelo Milan no mercado de Inverno mas impossibilitado de vestir a camisola rossonera nos jogos com o Barcelona porque já jogou na corrente edição da Liga dos Campeões ao serviço do Manchester City. Balotelli é um tipo especial, na verdade.
«Eu não joguei porque as leis da UEFA me impedem mas, sinceramente, não percebo por que razão o Messi também não jogou», disse o asougado internacional italiano no fim do jogo de Milão referindo-se à fraca prestação do melhor jogador do mundo.
Agora é Messi que está em crise. Bendito futebol mais as suas novidades.
FUTEBOL é futebol mas, com o devido respeito, não se imagina o Sporting, no estado debilitado em que se encontra a sua equipa de futebol, a conseguir pontuar no frente-a-frente com o campeão nacional no sábado.
Da equipa do Sporting que, no princípio de Dezembro, perdeu com o Benfica em Alvalade por 3-1 saíram cinco jogadores: Insúa, Elias, Xandão, Pranjic e Izmailov. Este último regressará agora à sua antiga casa com uma nova entidade, Izmaylov, e com uma saúde milagrosamente restabelecida. E já é pedir milagres a mais para sábado em Alvalade.
«PERDEMOS a competição menos importante», disse Xavi Hermandéz depois do Barcelona ter siso eliminado pelo Real Madrid da Copa do Rei. Felizmente que Jorge Jesus não disse nada parecido ontem à noite depois de o Benfica ter sido afastado pelo Sporting de Braga no desempate por grandes penalidades. Ficava-lhe mal e ficava-nos mal.
A Taça da Liga provavelmente precisa de um outro vencedor que não seja o Benfica ou o Vitoria de Setúbal - campeão da primeira edição - para passar a ser uma prova importante para os demais. Resta saber como vai o Benfica reagir ao seu primeiro desaire irremediável da época. Agora é que se vai ver..."
Leonor Pinhão, in A Bola
PS: Quando se analisa as declarações do Jesus, sobre o excesso de competições, irrita-me alguma leviandade como as comparações são feitas:
No passado, mesmo com os modelos antigos das Competições Europeias, praticamente todos os treinadores se queixavam do excesso de jogos, mas nas últimas épocas os modelos mudaram, principalmente na Liga Europa. Os jogos à Quinta-feira, com 8 dias, entre os dois jogos, alteraram, para muito pior, este cenário... As queixas do Gutmann, justificadas ou não, não se podem comprar ao momento actual, porque o Gutmann nunca teve que fazer em 35 dias, 11 jogos, com duas viagens ao estrangeiro pelo meio, com intervalos de 69 horas entre jogos - Bayer; Paços!!! -, como está a acontecer neste momento ao Benfica - entre 10/2 na Choupana até 17/3 em Guimarães!!! -, além disso, quando se compara as dificuldades internas do Benfica, com os Corruptos, está-se novamente a comparar o incomparável, porque o Benfica não tem o departamento de aconselhamento matrimonial...!!!
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