"O mundo do dirigismo do futebol português é certamente o universo em que a opinião publicada tem menos influência. Tolera-se a palavra legislada, atura-se, com impaciência indisfarçada, quem tem a incómoda voz publicada e despreza-se, com altivez, a opinião pública.
Se, por exemplo, são apanhados dirigentes em conluios de concubinas e árbitros? Não há problema. Mão amiga resgatará da ignomínia os dirigentes apanhados em flagrante, conduzi-los-á em ambiente festivo e de charanga até à casa da democracia e, em plenos ‘passos perdidos’, achar-se-á a ocasião de proclamar o pária como homem honrado e prezado. Se, ainda assim, alguém desconfiar da pantomima, repete-se o corso e arranja-se uma condecoração, uma comenda ou outra qualquer barra de sabão e água benta.
A receita é infalível e serve para várias maleitas para além da supracitada. Serve para atirar para o esquecimento o dirigente que manda depositar dinheiro na conta do fiscal de linha. Serve para que famílias “dinásticas” se sirvam de um clube, atirem o clube para a ignomínia, fujam do clube e regressem em ombros a esse mesmo clube. Serve para que se assista ao triste espectáculo de ver dirigentes desportivos e políticos atirarem de mão em mão, como se de uma péla de brincar se tratasse, as responsabilidades pela ausência de policiamento em jogos de futebol que se transformam em demonstrações de violência gratuita pelas bancadas. Servirá brevemente para que alguém assobie para o ar perante a iminente ausência de qualquer controlo antidoping nos jogos dos campeonatos profissionais de futebol.
Perante isto, a opinião pública estranha, a opinião publicada protesta, a lei não é para ali chamada e o público que continue a pagar, semanalmente, o bilhete para assistir à farsa."
Pedro F. Ferreira, in O Benfica
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