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quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Entre a memória e o futuro, o meu Benfica


"O caminho do Alentejo até ao Estádio da Luz tinha algo de litúrgico. Enquanto jovem sair do interior alentejano a caminho da catedral era emancipador. Nesse trajeto diluíam-se as diferenças de Lisboa e do Alentejo. Ao aproximarmo-nos do nosso estádio esbatiam-se as diferenças que na altura eram, para nós, incontornáveis.
Ao chegar à Luz, no meio dos milhares de adeptos que a compunham, não havia miúdos de Elvas, de Lisboa, do Estoril ou de Maputo. Havia adeptos do Sport Lisboa e Benfica.
Fazíamos todos parte daquela dança coletiva. Do patear altivo da última bancada, dos gritos espontâneos que contagiavam o estádio. Daquele «carrega Benfica» dito com vontade, vindo das vísceras.
Para mim, ser do Benfica sempre foi isso. Sempre me envaideceu a natureza popular do nosso clube. Por umas horas abstraímo-nos da realidade económica, da educação, das profissões, da nacionalidade, para nos concentrarmos no nosso amor comum. O Benfica.
A nossa unidade era visível a olho nu no estádio. O sentimento de pertencermos a algo maior do que nós sentia-se no arrepio que percorria a espinha enquanto o estádio cantava em uníssono as palavras sagradas popularizadas pelo Luís Piçarra ou enquanto comíamos uma sandes de courato nas imediações da Luz.
'De todos, um' é o lema que o nosso emblema transporta e é a realidade do nosso clube. Este coletivo heterogéneo, que percorre classes sociais, países e diferentes continentes, unido num benfiquismo que todos reconhecemos quando o vemos, é a essência da alma benfiquista. Saber que quando ganhamos um título se festeja nos recreios das escolas de Lisboa, de Bragança ou de Luanda em igual intensidade.
Para quem nasceu na periferia ser do Benfica é dos primeiros sentimentos libertadores. Fazer parte de algo maior, com pertença, valores e identidade comum, aproxima-nos. E eu, a 200 km de Lisboa, vibrava com a proximidade que o Benfica me dava. Durante a duração de um jogo, seja visto pelo estádio, sofrido na telefonia ou pela televisão, sabia que não era mais nem menos do que outro adepto. Éramos benfiquistas e isso era o que nos definia.
Este Benfica idílico da minha infância foi sofrendo alterações ao longo da minha vida de adolescente e entrada nos primeiros anos de trabalho. A mística mantinha-se, mas o brio, aqueles gritos coletivos que empolgam um estádio, estavam cada vez mais vazios. Vivemos o Vietname, o sexto lugar, o Celta de Vigo, uma pré-falência. Aquele Benfica orgulhoso, de dimensão mundial, estava adormecido.
Mas isso foi mudando. Acabámos com um período negro da nossa história com a força do voto e mudámos. Entrámos no século XXI. Acordámos a nossa mística.
Precisávamos de um estádio moderno, europeu, imponente e fizemo-lo.
Precisávamos de uma academia de excelência, com um estilo de jogo inato, que produzisse talento português de topo mundial e profissionais com qualidades humanas vincadas, e fizemo-la.
Precisávamos de dados, ciência aplicada ao desporto de alta competição, métricas para avaliar possíveis reforços, nutrição estudada e cuidada para os nossos atletas, tecnologia de ponta que nos distinguisse dos nossos adversários, e tivemo-la. Precisávamos de títulos, noites europeias de glória, campeonatos nacionais, e tivemo-los.
Chegados a 2025, na véspera de umas eleições que decidirão o futuro coletivo do Benfica, temo-nos de perguntar o que falta para darmos o passo em frente. Para sairmos desta apatia institucional que parece ter-se instalado nos últimos quatro anos.
O Benfica, enquanto marca desportiva e símbolo nacional, tem de voltar a pensar o futuro com a mesma ambição com que um dia ergueu o Estádio da Luz. O primeiro passo é diversificar as suas fontes de receita, dar nova vida às infraestruturas, aumentar a sua capacidade, multiplicar os usos, fazer dele o coração do desporto e do entretenimento em Portugal.
O segundo é investir na base, no nosso talento humano, nos miúdos que carregam o emblema ao peito. Já fomos a melhor academia do mundo; temos de voltar a sê-lo. Não apenas para formar jogadores, mas para educar benfiquistas.
E o terceiro é assumir o que sempre fomos: líderes. Num mundo onde o desporto é indústria e cultura, o Benfica tem de ser referência — na inovação, na comunicação, na forma como une o talento, a paixão e a sua dimensão global. Seja através de novas modalidades como a Kings League, seja nos e-sports, numa aposta consistente e estrutural no futebol feminino, ou seja na produção de conteúdos globais para as plataformas de distribuição audiovisual. O Benfica pertence às maiores montras globais.
Quando penso nesse miúdo que saía de Elvas de madrugada para ver o Benfica, penso que ele acreditava em algo maior do que o próprio jogo.
Acreditava num clube que unia gerações, lugares e sonhos.
No sábado só há um candidato que pode levar o Benfica a voltar a ganhar. Quem nos pode fazer regressar à rota dos títulos é o mesmo presidente que nos tirou da apatia do longo inverno dos anos 90. Quem nos pode dar uma academia de topo é o mesmo presidente que a construiu. Quem nos poderá dar um estádio capaz para os desafios do futuro é o mesmo presidente que nos deu um estádio à altura do século XXI.
Quem pode unir o Benfica, quem melhor compreende que o benfiquismo se vive no centro e na periferia. Que sabe que a mística não tem classe social, licenciatura ou idade é um só candidato. É o candidato que joga à sueca e é empresário. Que é gestor e avô. Português e benfiquista.
No sábado a visão que melhor corporiza o que é o Benfica, este clube lutador, que na luta com fervor, nunca encontrou rival, é o nosso presidente Luís Filipe Vieira.
O meu Benfica é o Benfica com futuro.
'De todos, um'. É esta a nossa força, é este o nosso desígnio."

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