"A saída de Bruno Lage abriu caminho para o regresso de José Mourinho. Rui Costa diz que tomou as decisões a pensar no Benfica e não em si próprio… Não concordo e vou explicar porquê.
O 'trunfo' Bruno Lage
Na conferência de imprensa onde anunciou o despedimento de Lage, Rui Costa referiu que ainda não fez campanha eleitoral. O meu entendimento é diferente. Parece-me que Rui Costa tem estado a fazer campanha eleitoral há muito tempo. A apresentação do projeto em papel do Benfica District é um exemplo claro e óbvio, mas a grande estratégia eleitoral tem por base um nome: Bruno Lage.
De uma forma simples vou explicar o meu racional. Na última época o Benfica perdeu o campeonato e a Taça de Portugal por demérito próprio. O futebol apresentado nunca encantou. As lacunas da equipa nunca foram corrigidas. Rui Costa referiu que manteve Bruno Lage porque se trocasse de treinador no final da temporada, o novo timoneiro não iria ter tempo para conhecer os jogadores e isso poderia colocar em causa os objetivos do clube. Esta justificação perde o sentido porque Mourinho foi contratado e em 15 dias vai jogar cinco jogos (alguns de grau de dificuldade muito elevado), ou seja, o racional que justificou a manutenção de Lage cai por terra.
Então por que motivo Rui Costa não trocou de treinador no início da época? Não o fez por uma questão de estratégia pessoal. Se Rui Costa tivesse trocado de treinador no início da época e as coisas corressem mal ficava sem trunfos para poder impactar as eleições. Assim, a manutenção de Lage teve dois objetivos. O primeiro era se tudo corresse bem, Rui Costa e o seu projeto desportivo sairiam reforçados, os adeptos iriam ficar satisfeitos e a consequência poderia ser uma reeleição.
O segundo foi que se desportivamente as coisas não funcionassem, como acabou por acontecer, Rui Costa teria sempre a possibilidade de jogar uma última cartada eleitoral, que passava pelo despedimento de Lage e a contratação de um nome que trouxesse novamente a esperança e aumentasse as expectativas.
A ingenuidade de Lage
Faltou visão a Bruno Lage para perceber o que estava a acontecer à sua volta. Não sei se percebeu, ou não, as movimentações que estavam a ser feitas nos bastidores. A realidade é que não se soube proteger da melhor forma. Como é que o poderia ter feito? A forma mais óbvia seria através de resultados e qualidade exibicional. Neste campo, por muito que tenha tentando elevar os seus feitos de início de época (como estar sete jogos sem sofrer golos), a realidade é que nunca conseguiu empolgar os adeptos, corrigir os defeitos da equipa e, pior, nunca conseguiu explicar os motivos pelos quais os erros se repetiam.
A segunda forma de se proteger seria através da comunicação, onde mais uma vez demonstrou debilidades. Nem o caderno que levava para as conferências o conseguiu ajudar. Teve inclusivamente algumas declarações que podem ser consideradas eleitoralistas. O pior no meio de tudo isto, e que denota falta de visão, é que não percebeu aquilo que todos já tínhamos percebido: estava a proteger quem iria acabar por (mais uma vez) despedi-lo!
O regresso de Mourinho
«Treinar o Benfica é regressar ao meu nível.» Esta frase demonstra o motivo pelo qual Mourinho não podia recusar o Benfica. Porque é que vir para o Benfica é regressar ao seu nível? Porque no Benfica tem o maior orçamento da Liga, ou seja, tem tão boas ou melhores armas que os rivais para atingir objetivos, algo que não aconteceu no Tottenham, Roma ou Fenerbahçe. Regressar ao Benfica é regressar à Liga dos Campeões que deveria ser o seu habitat natural, algo que não aconteceu no Fenerbahçe, por demérito, e nos outros clubes que referi anteriormente. Regressar ao Benfica é ter a possibilidade de fazer um bom trabalho e estar às portas da Seleção Nacional!
Por que faz sentido a contratação de Mourinho para Rui Costa? Porque Mourinho representa a última hipótese de Rui Costa poder ser reeleito. Vai dar o peito às balas. Vai centrar as atenções em si. Vai galvanizar e criar expectativas na massa associativa. Sabendo de tudo isto, Mourinho só podia aceitar o desafio. Contudo, tratando-se de uma pessoa inteligente, percebe que o seu papel é muito mais do que simplesmente treinar. Assim, Mourinho, além do seu papel dentro do campo, traz consigo todo um mediatismo que pode ser valorizado pelo clube. Adicionalmente, tem o papel de agregador e de salvador de Rui Costa. Tem ainda a capacidade de comunicar por um clube que tem tido muitas dificuldades nesta matéria.
Nesta negociação quem é que teve o poder? Onde é que Mourinho vai fazer com que todos estes pressupostos estejam refletidos? Com toda a certeza, todas estas funções vão estar espelhadas na folha salarial, implicando mais um investimento muito elevado e com o racional errado por parte da administração encarnada!
Pela positiva, é importante referir que o contrato assinado pressupõe que, no final do primeiro ano, tanto Benfica como Mourinho, podem rescindir mediante o pagamento de uma indemnização mais reduzida do que o valor do contrato total. Não percebo o motivo porque não se diz qual o valor que permite a desvinculação de qualquer uma das partes. Parece-me óbvio que não o fizeram porque independentemente de ser um desconto face ao contrato total, este valor é ainda muito elevado. Mais uma vez está em causa a transparência que teima em aparecer no Benfica.
A valorizar: Isaac Nader
É o novo campeão do mundo de 1500 metros.
A desvalorizar: FC Porto B
Cinco jogos na Liga 2, quatro derrotas e um empate. Dez golos sofridos e apenas um marcado."

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