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segunda-feira, 22 de setembro de 2025

O cuidado multidimensional forma ativos diferenciados


"No coração do futebol português, entre os alicerces que deveriam sustentar o futuro, persiste uma contradição gritante. Enquanto os escalões seniores são geridos como negócios altamente profissionalizados, a formação, mesmo em clubes da Liga principal, vai expondo uma insensibilidade alarmante dirigida a jovens atletas. Não se trata apenas de falhas pontuais. Trata-se de uma cultura que privilegia resultados imediatos, o amanhã rápido e descartável, em vez de investir no verdadeiro processo formativo.
Essa lógica imediatista é profundamente contraproducente. Ao exigir rendimento instantâneo, impede-se que atletas com potencial infinito tenham tempo para se adaptar, crescer e desenvolver todo o seu talento. A história de alguns jogadores sublinha de forma muito clara este ponto. Alguns jovens de baixa estatura, frágeis fisicamente ou tímidos muitas vezes não recebem oportunidades nos chamados grandes clubes portugueses. Infelizmente, tudo isto nos foi recordado recentemente, a propósito de um acontecimento trágico no universo futebolístico nacional e internacional.
Mas estes jovens atletas, quando apoiados num contexto de treino de elevada qualidade, com paciência e acompanhamento adequado, conseguem transformar-se em atletas de excelência, capazes de se destacar nacional e internacionalmente. Cada jovem ser humano é ímpar e reage de forma diferente às adversidades, podendo ser mais ou menos sensível ao stress, que em muitas circunstâncias é imposto de forma alheia à sua conduta. Alguns precisam de mais tempo para recuperar fisicamente de doenças; outros para recuperar emocionalmente de choques. É importante sublinhar que a dimensão emocional não é apenas um aspeto separado do desempenho físico. Só um atleta emocionalmente equilibrado consegue treinar com a consistência adequada e atingir a sua performance máxima enquanto atleta. No mesmo sentido, choques emocionais não tratados reduzem rendimento físico, atrasam adaptações e limitam muito o pleno desenvolvimento do potencial do atleta. Por isso, estes jovens deveriam ser apoiados e incentivados, para que recuperem e regressem em igualdade de circunstâncias, com corpo e mente em equilíbrio.
Este texto é escrito com o propósito de fazer os clubes e as estruturas de formação refletirem sobre o jovem atleta como um ser humano multidimensional. Se as dimensões física, emocional, psicológica, social e académica forem devidamente avaliadas e potenciadas, o resultado não será apenas um indivíduo mais equilibrado, mas um ativo desportivo e humano de muito maior valor de mercado. E, como mostram casos de superação, até os atletas inicialmente subestimados devido à estatura, à fragilidade física ou à timidez podem transformar-se em referências nacionais e globais.
Enquanto persistir a lógica de sacrificar o futuro em nome do amanhã é provável que a formação fabrique mais desistentes do que campeões. Quase certamente, a qualidade do futebol não sai a ganhar no presente e no futuro."

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