"Uma das tendências da última década é a criação de grupos de clubes de futebol (multi-club ownership - MCO) em ligas de diferentes países.
Um relatório da SportBusiness, de novembro de 2023, descobriu que um total de 301 clubes em todo o mundo faziam parte de 124 grupos MCO; destes, 197 clubes na Europa pertencem agora a um grupo multiclubes.
Em fevereiro de 2024, a CIES Sports Intelligence informava que o número já está próximo de 350, dos quais 221 na Europa (UEFA) e 58 na América do Norte e Central (CONCACAF).
O número vai aumentando, estes grupos MCO continuam a expandir-se e mais investidores estão a entrar neste campo. Ainda de acordo com a CIES Sports Intelligence, os EUA (36), a Inglaterra (35) e a Espanha (30) são os países com maior número de clubes na MCO. Mas o número de clubes envolvidos em MCO também está a crescer noutras ligas europeias de futebol.
Por vezes a holding controlando os grupos MCO pertence a entidades públicas (ex: o Qatar Sports Investments - QSI) ou parapúblicas (como é o caso do City Football Group, do xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan, de Abu Dhabi) que investem para efeitos de nation branding, soft power e diplomacia desportiva.
Na maioria dos casos, o controlo de grupos MCO pertence a entidades privadas, sejam elas financeiras (é o caso da 777 Partners, do Fenway Sports Group, da NewCity Capital ou do Kroenke Sports & Entertainment) ou não (Red Bull), bem como a magnatas (ex: Todd Boehly, John Textor, Wes Edens, Gino Pozzo, Peter Lim) que investem para obterem retorno financeiro.
Em vários casos, o grupo MCO tem clubes em diferentes ligas desportivas, não apenas nas de futebol.
Dos quatro principais clubes portugueses, apenas o SC Braga faz parte de um grupo MCO - 29% do capital da sua SAD pertence à QSI. A AG extraordinária de 3 de fevereiro mostrou que a maioria dos sócios do Braga mantém uma “mentalidade proprietária” do clube. Alguém acredita que a QSI vai investir mais num clube que não controla?
O mesmo sentimento parece existir nos sócios dos outros três grandes. Sentimento que permite que os atuais administradores vão mantendo as rédeas de controlo dos [negócios dos] clubes.
As principais receitas dos grandes clubes portugueses estão dependentes de fatores incertos, como os montantes dos direitos televisivos e multimédia - dependentes do novo modelo de comercialização centralizada (a ter início em 2027) - e as mais-valias de vendas de jovens jogadores por eles formados.
Há ainda muito a fazer na gestão da dívida, na redução de custos, na criação de novas receitas com eventos nos estádios, em esports, na economia digital; o que faz com que estes clubes permaneçam ativos com potencial. Mas sem o abandono da “mentalidade proprietária” ninguém injetará capital nestes clubes."
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