"Boa sorte aos franceses, que estão a organizar uns Jogos Olímpicos de alto risco. E Portugal? Não serão as medalhas, muitas ou nenhuma, a definir o estado do nosso Desporto…
Num Mundo que tem 193 Estados representados nas Nações Unidas, há 204 Comités Olímpicos nacionais (a que se juntam delegações dos Refugiados e dos Sem Bandeira, que agrega russos e bielorrussos), a competir nos Jogos Olímpicos de Paris. E embora, dos ideais do Barão Pierre de Coubertin quanto à prática desportiva, seja agora feita uma interpretação muito lata, a verdade é que nenhum outro evento é capaz de fazer morar, durante 17 dias, delegações de países desavindos, na mesma aldeia, comendo no mesmo ‘refeitório’, e partilhando os mesmos espaços de lazer, como que a dizer que, realmente, é possível viver em concórdia. Esta interpretação, que à primeira vista pode parecer ingénua, deixa de o ser se pensarmos no contributo inestimável que a visibilidade dos Jogos Olímpicos deu à luta contra o racismo e o apartheid; ou se constatarmos a importância dos Jogos na normalização da igualdade de género, processo ainda em movimento através do incremento das equipas mistas. O Desporto, através da sua linguagem universal, e da inevitável meritocracia que lhe subjaz (ganha o melhor, independentemente de cor, religião, orientação sexual, ou seja o que mais for…), é um instrumento de Paz e desenvolvimento social que não pode nem deve ser subvalorizado.
Não posso dizer que tenha ficado surpreendido com o ataque às linhas de TGV francesas, porque haverá sempre quem queira parasitar os Jogos, especialmente em países onde proliferam os movimentos inorgânicos e não é possível comprar tréguas com o crime organizado, como tantas vezes tem sido feito noutras paragens. Reconheço coragem aos franceses, que proporcionaram ao Mundo uma cerimónia de abertura cheia de perigos potenciais, que acabou por transformar-se numa recusa de sucumbir perante o medo, mesmo que alguma disrupção tenha ido além do razoável. Mas, com vários eventos espalhados pelos locais mais emblemáticos da cidade-luz até 11 de agosto, o risco estará sempre presente, há que ter consciência deste facto, e abandonar as lamúrias quanto às preocupações com a segurança.
PS – À delegação portuguesa desejo tantas medalhas quanto possível. Mas, sejam muitas ou nenhuma, nunca poderá ser esse o aferidor do estado do nosso Desporto…"
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