"Caro leitor, sempre que ouvir um dirigente do Sporting a evocar os méritos da gestão, sente-se, inspire fundo e finja que está numa dimensão paralela onde as palavras perderam o sentido.
Lembro-me de o antigo presidente do Sporting, José Roquette, apresentar um modelo empresarial para o Sporting que, passo a parafrasear, tornaria o clube imune às bolas que entram ou não na baliza. Quem lesse a comunicação social desportiva de então ficaria a saber que as metodologias de gestão infalíveis, e o dinheiro jorraria à catadupa.
E as SAD, além, de servirem para propiciar uma injecção de capital no momento do lançamento, aceleraram de facto a implementação de uma lógica empresarial nos clubes de futebol.
Como se não tivessem existido, no entanto, já suficientes falências no tecido empresarial. E a Sporting SAD é só mais uma, apesar de nunca ter falido de facto pois beneficia, ao contrário da esmagadora maioria das empresas, de uma grande legião de adeptos, por sua vez clientes de bancos (e administradores!).
Assim, sucessivas más gestões, intercaladas aqui ou ali por algum bom senso, resultaram numa acumulação de dívida insustentável, só sanada por reestruturações de dívida e capital sob diversas formas e nomenclaturas. 'Cortar as perdas' parece ter sido sempre a motivação da banca.
E nesta semana foi consumado um gigantesco 'perdão' de dívida. Tecnicamente não se trata de um perdão, daí as aspas, mas, na prática, e, para leigos, por artes que mais parecem mágicas, havia dívida que deixou de existir.
A Sporting, SAD devia cada vez mais, o BES (depois Novo Banco) e o BCP transformaram grande parte dessa dívida em capital sobrevalorizando imensamente as operações em relação à cotação das acções (para quase o dobro) e acederam posteriormente a que a Sporting, SAD pudesse readquirir o capital com 70% de desconto, agora feito com o BCP de forma antecipada, porventura com um desconto ainda maior. E com tanto desconto é surpreendente como não terá havido investigadores privados interessados na Sporting SAD.
E o que aconteceu entretanto? A Sporting, SAD prosseguiu na senda dos prejuízos acumulados, ao ponto de ter voltado a uma situação de falência técnica logo em 2017/18, que perdura, não obstante os mais de 127 milhões de euros das VMOC constantes no capital próprio. E nestes anos, talvez noutra galáxia, a SAD do Benfica deixou de ter endividamento bancário (à excepção de uma conta caucionada para gestão da tesouraria)..."
João Tomaz, in O Benfica
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