"Os portugueses (lamentavelmente uma minoria) vão votar este domingo para as eleições primárias das legislativas a que normalmente se chama europeias e arrisco dizer que a maior parte não tem consciência em quê. Em que projecto, em que ideias para a Europa e para o país, em que causas? Não sabemos. Sabemos que os candidatos continuam a fazer campanhas do século passado com beijinhos em feiras e mercados, mas principalmente nos partidos “mainstream” temos dificuldade em perceber que causas concretas defendem.
Esta situação é especialmente grave no centro direita, representado pelo PSD e CDS. As sondagens parecem reflectir isso. Se já estava complicado entender o seu caminho alternativo, ficámos ainda mais confusos quando os vimos a apoiar a luta de Mário Nogueira e a estenderem uma passadeira vermelha para António Costa reforçar o eleitorado que decide eleições: o do centro.
Como eleitor deste espectro, gostaria de ver mais convicção na defesa dos cidadãos que não integram corporações de funcionários públicos e que têm sido colocados em segundo plano nas prioridades da geringonça. Mais do que críticas inflamadas ao “ilusionismo” de António Costa, à sua maior ou menor honestidade política e às relações familiares em que todos parecem ter telhados de vidro, talvez fosse mais interessante ver este centro direita a defender um caminho alternativo e concreto, por exemplo, em relação às múltiplas investidas do Governo e seus apoiantes sobre a propriedade e iniciativa privadas. Veja-se a mais recente lei que agrava brutalmente o IMI sobre imóveis devolutos de particulares, incluindo meros apartamentos. Recorde-se o “imposto Mortágua” e as intromissões na liberdade privada no mercado de arrendamento. E o que dizer da mais alta carga fiscal de que há memória sem contrapartida em investimento público? Pelos vistos, muito pouco. O que nos faz ter a sensação de que, na realidade, o centro direita tradicional não acredita muito que há uma verdadeira alternativa, para além de uma mera mudança de rostos de poder. Isso é preocupante e, não é por acaso, que seja à direita que estão a emergir novos partidos com ambição de fazerem neste lado o que o Bloco fez à esquerda.
Como bem disse Bruno Lage perante uma multidão de benfiquistas em festa no Marquês de Pombal, temos que ser tão exigentes nos outros aspectos do nosso Portugal como somos com o futebol. Ele falou da saúde, economia e educação. Eu acrescento a política. Temos que ser mais exigentes em relação aos nossos políticos, pedindo-lhes mais projectos e menos politiquice ao sabor de vazias agendas mediáticas que rapidamente se esfumam.
Como benfiquista assumido que sou, Bruno Lage é o meu herói desportivo de 2019. Transformou lata em ouro. Mas, mais do que isso, o seu discurso é uma lufada de ar fresco para um futebol esgotado de palavras azedas e absurdamente bélicas. Promove uma cidadania responsável e rapidamente demonstrou que não é preciso ser fanfarrão para se ter atenção. Com inteligência e humildade, conseguiu fazer sobressair as suas qualidades técnicas e humanas de liderança, com resultados comprovados.
Em detrimento de gritos e críticas cegas contra árbitros e adversários, Lage optou por dizer alguma coisa que pusesse as pessoas a pensar. A sua liderança promoveu uma cultura de exigência e meritocracia, que aposta na juventude sem desprezar os mais velhos e em que “todos contam”.
Depois do previsível desaire deste domingo, PSD e CDS têm praticamente o mesmo tempo até às legislativas de Outubro que Bruno Lage teve para transformar um campeonato quase perdido numa vitória memorável. Talvez fosse boa ideia aplicarem à política a tática de Lage no futebol."
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