"O Estoril é um mistério. A equipa muda de treinador, ‘apaga’ uma má primeira volta e transforma-se: faz uns grandes 45 minutos com o FC Porto e fica a vencer por 1-0, vai empatar a Guimarães, ganha em casa ao Tondela e ao Sporting – aos leões, num jogo quase perfeito – e marca seis golos e não sofre nenhum em três jogos e meio. Ainda triunfa em Moreira de Cónegos antes de lhe dar o badagaio: derrotas em casa com o Belenenses e na segunda parte com o FC Porto, em Chaves e de novo no seu terreno, por goleada, frente ao Sp. Braga, não apontando um único golo e sofrendo 13 (!) nesses outros três desafios e meio – em que assinou exibições horríveis. Peço desculpa por só escrever uma singela frase: isto não é normal.
Seis derrotas na Liga dos Campeões? Eliminado das Taças da Liga e de Portugal? A cinco pontos do líder no campeonato? Tudo isso daria uma época arrumada, não fosse o Benfica isso mesmo, o Benfica. É impressionante o modo como os adeptos acorrem a apoiar a sua equipa e acreditam na conquista do penta. Eles sabem que isso apagaria tudo o resto...
Já os fãs do Sporting poderão ter entrado agora numa fase difícil, pelo cenário totalmente inverso. Os leões ganharam a Taça da Liga, estão nos ‘oitavos’ da Liga Europa, podem chegar à final da Taça de Portugal, ainda não disseram adeus ao título – uma derrota dos portistas na Luz relançaria a luta – e somam sucessos em várias modalidades. Mas ser campeão no futebol profissional é tudo o que o Sporting precisa. E enquanto isso não acontecer, não haverá sossego em Alvalade.
A oito pontos da frente, poderá Jorge Jesus fazer com que a equipa continue focada nos objectivos e com os níveis psicológicos em alta? É que do ponto de vista futebolístico a sensação com que fiquei é que se tivessem Gelson e Bas Dost, e com o FC Porto de sexta-feira, os leões teriam saído vivos do Dragão. Mas não vale chover mais no molhado: a cabeça no ar de Gelson afastou-o do clássico, e o homem que sabe tudo, ao manter o holandês em campo contra o Astana para além do que a prudência aconselhava, borrou o resto da pintura. Nada a fazer, viver é errar.
Não se trata da história clássica do homem rico e do homem pobre porque eles já estão ricos os dois e mais ficarão até ao final das carreiras. Mas se dá gosto ver jogar Bernardo Silva – e vê-lo marcar golos fantásticos – animado pela confiança e pelos elogios de Guardiola, é penoso ver a forma como André Gomes se arrasta em campo – e falha passes uns atrás dos outros – uma vez que o renovado apoio de Ernesto Valverde se apaga nos assobios que chegam das bancadas.
Não é o único caído em desgraça. Cedido pelo Inter, João Mário já é suplente, não utilizado, do West Ham, ou seja, espalhou-se ao escolher a Itália, hoje um cemitério para os jogadores portugueses, pois também Nani não se impõe na Lazio e André Silva não consegue ser titular no Milan. Veremos que implicações isso terá para os três, tão apertada se apresenta a concorrência para os nossos 23 do Mundial."
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