"Escrevi neste mesmo espaço no início da época desportiva – assente também na história dos últimos quase 40 campeonatos – que dos três candidatos, aqueles que preenchiam os maiores requisitos para chegar ao título seriam Benfica e FC Porto.
A análise não teve em conta as centenas de informações que constam do plantel de cada um dos clubes, nem das características técnicas, tácticas e físicas de todos os jogadores que constituem cada um dos plantéis. Acima de tudo, a história dos campeonatos desde 1980 indica-nos que um treinador campeão não volta a repetir o feito noutro clube nacional.
A mesma história dá-nos dois grandes candidatos no que diz respeito ao perfil do treinador: aquele que cumpre a primeira temporada no clube; ou um que viva uma sequência de conquistas consecutivas.
Nada disto retira qualidade a Jorge Jesus e a entrega a qualquer um dos outros treinadores. Está, no entanto, comprovado que as nossas qualidades são maiores ou menores de acordo com aquilo que, na liderança, se chama vantagens e forças do contexto que perfazem a liderança situacional. É interessante perceber que há treinadores que conseguem mais sucesso sempre nos mesmos contextos, independentemente do clube onde estão, e que existem outros que apenas atingem esse mesmo sucesso no mesmo clube.
Os que conseguem sucesso em todos os clubes por que passam são muito raros, daí quase todos nós nos lembrarmos deles desde dos tempos da televisão a preto e branco.
Aquilo que um treinador não controla, se pensarmos bem, são dezenas de coisas. A um nível macro, um treinador não controla o calendário, o clima e os castigos das equipas adversárias. Não controla se os adversários chegam de uma semana com jornada europeia ou se a seguir ao jogo que preparam há jornada europeia. E, se calhar, não que goste do tema, não controla algo que cada vez tem mais impacto no desempenho: o imenso ruído que está à volta da competição, das equipas e que alguns treinadores conseguem potenciar. Uns mais, outros menos.
A um nível micro não controla se esse mesmo ruído é recebido pelos jogadores e como os mesmos reagem. Não controla, por exemplo, como é que o clube gere e lidera algumas temáticas próprias ou indirectamente relacionadas com o mesmo. Pensarmos que tudo isso passa ao lado de uma gestão de balneário – que cada vez recebe cada vez mais informação vinda de fora – é desprezar algo, que mesmo não controlando, temos de conseguir filtrar e gerir. A gestão do que não controlamos é, ainda por cima, por vezes mais complexa.
Na alta competição encontramos algo raro, dado que na normal sociedade passamos a vida a ouvir pessoas a desculparem-se do seu insucesso por algo que não controlam. É confortável e menos responsabilizador. Na alta competição os treinadores querem controlar e saber de tudo. Só isso lhes traz um mínimo conforto de poderem ser altamente competentes naquilo que dominam.
Voltando aos dados de que falei inicialmente no artigo, Jorge Jesus foi para o Sporting convencido que iria ser ele próprio a estrutura, pois levaria bons ensinamentos de como ser campeão. Se calhar, até seria o mais provável. Contudo, veio à superfície o perfil de liderança do presidente leonino e uma estrutura centralizada na sua pessoa. A história dá-nos constantemente ensinamentos de que não é possível coabitar com isso durante muito tempo. Vamos aguardar."
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