"No futebol, os finais de época são sempre alturas "tumultuosas", do ponto de vista dos afectos.
Ou a época correu bem e iniciam-se os festejos desse mesmo "feito" e se alcança (ou deseja) "aquele" contrato que servirá de impulso para melhor qualidade de vida e/ou melhores condições de treino e evolução...
Ou a época correu "mal" (ou de forma insuficiente) e a busca incessante de justificações instala-se, levantando-se considerações acerca das "injustiças" que se observam (ou julgamos observar) no meio que nos rodeia - nas oportunidades que o treinador não deu, no dirigente que não apostou, no empresário que não se tem (ou de quem não se gosta), entre outras possíveis razões para o insucesso.
Tendencialmente (salvo excepções que possam surgir), e não só no contexto de futebol, reagimos assim:
Sucesso - comemoração;
Insucesso - julgamos negativamente (a si próprio, aos outros, ao meio);
Curiosamente, em ambas as situações, comete-se o mesmo erro pois, na realidade, se não nos detivermos a avaliar o padrão de comportamentos que mantivemos, e que nos conduziu ao sucesso/insucesso, teremos sempre dificuldade em desencadear, voluntariamente, os comportamentos que, de forma consistente e consolidada, nos aproximarão do sucesso.
De facto, e numa semana em que tanto se fala do Ronaldo, e validando apenas algumas das características que lhe são publicamente reconhecidas, o seu DNA espelha uma enorme vontade de superação... a partir do seu próprio trabalho.
Por outras palavras, a partir da única coisa que realmente controla - o seu próprio comportamento.
Se pensarmos nesta fórmula, de nos centrarmos em exclusivo no nosso comportamento que, aparentemente, evidencia ser uma das alavancas do seu sucesso (como de tantas outras "personalidades" que, em áreas distintas, pela qualidade consistente do seu trabalho obtém sucesso), teremos algumas directrizes que importa integrar como "exercício" de final de época:
1) Face ao sucesso;
Frequentemente, no que respeita ao sucesso, a acção a limita-se à sua comemoração e a "curtir" a "onda" de adrenalina que dele advém.
De facto, esta primeira acção é já, para alguns atletas, um enorme "feito" pois, muitas vezes, por terem padrões de exigência demasiadamente (entenda-se: disfuncionalmente) elevados, acabam por nem sequer "cumprir" este passo - fundamental para a consolidação da sua confiança.
Ficará, então, por cumprir uma segunda acção, que se traduz na análise do que conseguimos efectivamente fazer, de acordo com o planeado. Por outras palavras, algo como:
· O que correu bem e como vou repetir?
· O que podia ter corrido melhor e como posso procurar/activar oportunidades (soluções/ferramentas/atitudes) que alavanquem a minha evolução?
(ex: por vezes, apostar numa melhor qualidade alimentar e de sono pode ser suficiente para dar "aquele salto" que não se imaginava alcançar)
Estamos, assim, a optimizar (treinar!) a consciência ou, por outras palavras, a capacidade em reconhecer e trabalhar e comportamentos de sucesso.
2) Face ao insucesso;
Aqui a coisa complica... Seja porque a cabeça dos atletas tende a culpabilizar-se por tudo ou a iniciar um "agigantar" de raiva na direcção de tudo e todos (por se achar que não se merece o que se alcançou), até porque, muito frequentemente, amigos e familiares, numa tentativa de proteger a confiança do atleta, validam os "azares" com o treinador, o árbitro, o empresário, a lesão...
Enfim, acaba-se por se investir demasiado tempo nos "porquês" (fora da acção do indivíduo) e muito pouco tempo nos "como?" (centrados na acção do próprio) que, de facto, ajudarão o atleta a superar a situação.
Na realidade, há treinadores que, intencionalmente ou não, têm preferências com determinado tipo de atletas... há dirigentes e/ou empresários que, chamando a si a missão de "ajuda", acabam por só prejudicar, há árbitros que (tal como os atletas) cometem erros e há lesões que surgem na pior parte da época mas...
Contudo, tudo isto faz parte do jogo. E, se o atleta aceita participar, então, deve aceitar todas estas condicionantes que, já agora, não controla...
O desafio está, como a própria investigação científica corrobora, ao evidenciar uma das principais características associadas a atletas de elite na optimização da capacidade em focar a atenção apenas no que se consegue controlar, no caso, no próprio comportamento.
E, também aqui, em contexto de insucesso, essa característica será a alavanca que o ajudará a traduzir o insucesso em oportunidades de êxito, na medida em que uma correta análise do mesmo, resultará invariavelmente numa gigante margem de progressão para a próxima época.
Até porque, o Sucesso está "recheado" de um considerável número de "erros" (ou oportunidades de optimização) que, frequentemente desconsideramos por estarmos "inebriados" com a "comemoração" (o que resulta num erro e perda de oportunidades de progressão)...
E o Insucesso transporta um enorme conjunto de acções bem sucedidas, que se tende a desconsiderar pela "nuvem" que se instala com a desilusão do resultado final (o que resulta num ERRO da mesma dimensão).
Em suma, os finais de época (entenda-se o final de época de um atleta/treinador/árbitro/dirigente, o final de um ano escolar para um aluno, ou do ano económico para uma empresa), transportam uma enorme oportunidade que se traduz numa espécie de "encerrar para balanço" (como, há uns anos, se observava nas vitrines de lojas de rua), onde se deve identificar claramente, seja em contexto de sucesso ou insucesso, que comportamentos me aproximaram do meu objectivo e que comportamentos devem ser melhorados."
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