"O extraordinário acordo do Benfica com a NOS abre um novo ciclo na gestão dos direitos desportivos em Portugal. O Benfica, que já inovara com a Benfica TV, rompendo o velho monopólio de Joaquim Oliveira, volta a dar cartas e a ditar novas regras no mercado. Este acordo, que é ainda muito equívoco e permite várias leituras, prova - no entanto - não só a força da marca Benfica como a sagacidade negocial de Luís Filipe Vieira. Se estamos a falar de 40 milhões por época, é um número astronómico para a realidade do nosso futebol.
Há dois anos, um pouco mais, Vieira foi acusado de fazer 'bluff' quando exigiu 40 milhões de euros a Oliveira. O tempo deu-lhe razão. A questão agora é: quanto valem exactamente os jogos do Benfica e quanto valem os outros conteúdos da BTV, como as ligas europeias? Ainda assim não valerão 15 milhões de euros: mesmo que desse pacote conste a Liga Inglesa, o que não é certo.
Ao dizer no sábado que "este ano é decisivo para a sustentabilidade do Benfica", é provável que Vieira não estivesse a pensar apenas na política para o futebol e no "novo paradigma" que passa pelo lançamento de novos talentos. Com a entrada de dinheiro fresco também temos que perceber onde se vai situar desportivamente o Benfica.
O acordo tem, para já, mais perguntas do que respostas. Desde logo, porquê dez anos? É uma eternidade. Depois, os jogos do Benfica continuarão na BTV? E se sim, por quanto tempo? Passam para a Sport TV? Esse dado não é um detalhe. A Sport TV, a atravessar - de acordo com informações não desmentidas - uma grave crise financeira, precisaria dos jogos do Benfica, mas não é suposto que a mais importante TV de desporto deixe de estar na MEO ou na Vodafone para ficar apenas na NOS.
Também não é claro o alcance internacional do acordo. Sendo o Benfica uma marca global, onde pode chegar nas mãos de uma empresa de grande dinâmica mas apenas presente em Portugal e na África que fala português?
Este movimento, verdadeira OPA hostil, vai lançar uma corrida aos direitos. A Altice, dona da PT e um 'player' mundial emergente (acaba de comprar a Liga Inglesa para França) deverá contra-atacar, e Sporting e FC Porto poderão estar, a prazo, na mira.
De onde vem tanto dinheiro para pagar um futebol apesar de tudo pobre, com um mercado limitado e escassos patrocínios é a pergunta a que, para já, neste tempo de pouca racionalidade, ninguém quer responder.
Para o espectador será bom porque os operadores tornarão os seus serviços mais atractivos, talvez mais baratos e com inúmeras promoções, numa tentativa de captar novos subscritores e receitas. Havendo bons gestores nas várias empresas, mesmo inebriados - efeito que o futebol provoca - eles terão feito as contas."
Nuno Santos, in Record
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