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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Com a força dos ventos do Destino!

"A terrível derrota de Nuremberga, o Benfica respondeu com uma das mais brilhantes exibições da sua história. Aos três minutos já a eliminatória estava virada... Durante os restantes 87 minutos, o campeão alemão sofrer uma humilhação sem igual.

A semana passada deixámos o Benfica na Alemanha. Era, na verdade, a primeira visita dos 'encarnados' à Alemanha, em Fevereiro de 1962, e recordá-la faz sentido agora que, mais de 50 anos depois, o Benfica se prepara para regressar à Alemanha, desta vez a Leverkusen, para jogar uma eliminatória da Liga Europa.
Em Nuremberga, como se recordarão, o Benfica Campeão Europeu viu-se confrontado com um frio terrível, com um relvado que parecia uma placa de gelo e com um adversário pleno de brio decidido a obter uma das vitórias mais retumbantes do seu historial. E consegui-o. Belá Guttmann, ao pisar o terreno do jogo previu uma catástrofe. E esta catástrofe aconteceu: o Benfica saiu de Nuremberga vergado ao peso de uma derrota dura: 1-3. Mas nem por isso moralmente derrotado. Treinador, jogadores, dirigentes, acreditavam na reviravolta de Lisboa. Acreditavam profundamente que o Benfica era infinitamente superior ao campeão alemão.
Na Baviera, apesar da vitória, morava o receio. «Espera-nos um ambiente terrível! Serão mais de setenta mil gargantas a empurrar o Benfica no Estádio da Luz!»
No dia 22 de Fevereiro, a Luz encheu. Era uma quinta-feira. No fim-se-semana anterior, o Benfica deslocara-se à Covilhã e perdera, por 1-2, com o Sporting local. Não havia, por isso, motivo para optimismos acrescidos. No entanto, a crença não quebrava. E foi um dia de fé, entusiasmo a vibração.
Decididamente, os alemães nunca tiveram consciência do que os esperava na noite excitada de Lisboa. Recebidos com aplausos na sua entrada em campo, não imaginavam a tempestade que lhes caíria em cima. E a tempestade tinha nomes: Costa Pereira; Ângelo, Mário João, Germano e Cruz; Coluna e Cavém; José Augusto, Eusébio, José Águas e Simões. Nomes que ainda hoje fazem tremer as vidraças da História...

Um início devastador!
Três minutos! Três minutos foram suficientes para que o Benfica recuperasse da terrível desvantagem que trouxera da pista de esqui que fora o estádio do Nuemberga. Logo no minuto inicial, José Águas, num golpe de cabeça formidável, fez 1-0. Dois minutos depois, Eusébio, num remate potente, colocou o Benfica na frente da eliminatória.
Os setenta mil adeptos que enchiam a Luz nem queriam acreditar no que os seus olhos viam: o Benfica reduzia a pó o campeão da Alemanha e ainda havia mais 87 minutos para jogar. Até onde iria a voracidade dos jogadores 'encarnados'? De que tamanho seria a humilhação do Nuemberga? Não tardariam a afastar todas as dúvidas. Foi uma completa hora e meia de futebol da mais alta qualidade. Fantasia e sonho: soberbos e arrebatadores. Velocidade estonteante em todos os movimentos, dribles em progressão, remates súbitos e explosivos. Os alemães, após o soco inicial, tentaram recompor-se. Sem argumentos para disputar a partida a toda a extensão do campo, recolhem-se na frente da sua baliza na tentativa de evitar um descalabro de proporções homéricas. Debalde. A força do ataque do Benfica cai sobre eles um pontapé tremendo que leva a bola a esbarrar na trave. Aos 20 minutos, novo remate fortíssimo, desta vez de Coluna: a bola ainda resvala na perna de um contrário antes de entrar na baliza do guarda-redes Strick.
O 4-0 já surge após o intervalo, aos 55 minutos. Um lance individual de Simões que progride em dribles antes de colocar a bola na frente de Eusébio que com o pé esquerdo faz um golo monumental. O Benfica não refreia os seus ímpetos. Os jogadores 'encarnados' sentem que estão de braço dado com a lenda e exigem de si mesmos uma exibição que marcará para sempre a vida do Benfica. José Augusto faz o 5-0 (63 minutos) e o 6-0 (78 minutos) em lances individuais. Por mais de uma vez o campeão alemão está à beira de uma derrota de proporções inimagináveis.
A catástrofe anunciada por Béla Guttmann para Nuremberga virara-se contra os alemães com a violência dos ventos do destino... O Benfica ia na calha da sua segunda Taça dos Clubes Campeões Europeus."

Afonso de Melo, in O Benfica

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