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domingo, 27 de novembro de 2011

Quarto de círculo onde, cansada, a bola repousa

"É num quarto de círculo que a bola repousa, cansada que está de ser pontapeada a meio campo. Aimar recua dois passos, olha para a área, avança dois passos, pisca o olho à bola e diz-lhe para fingir que vai para a área mas para, pertinho dela, sair ligeiramente, pois estará lá Gaitán à sua espera. A bola vai dois segundos pelos ares, ao sabor da brisa lisboeta, a pensar que Aimar é doido. Como poderá estar lá Gaitán à minha espera se ainda agora, quando para lá olho, ele está noutro lado qualquer? Porém, a meio da viagem, quando a brisa suaviza, a bola percebe Aimar é vidente: Gaitán está a recolocar-se à entrada da área e a preparar-se para receber. É o que acontece: Gaitán manda violentíssimo tiro de pé esquerdo e a bola, zás-catrapás, embate no poste direito, desobedecendo aos humores de Aimar e de Gaitán, talvez hipnotizada pelas mãos de Rui Patrício. É um dos momentos do derby.

É no mesmo quarto de círculo que a bola volta a repousar, de novo cansada por tanto pontapé. Aimar recua os mesmos dois passos de há pouco, mas segreda à bola que, desta vez, vai para a pequena área, onde estará, segundo Aimar, Javi Garcia à sua espera. A bola, já em pleno voo, olha para a área e vê muita gente: Witsel, Polga, Onyewu, Cardozo e muitos outros. Vê muitos, mas não vê Javi. Até que, quando inicia a aterragem, a bola começa a ver o espanhol. E o espanhol começa a ver a bola. Esta vira-se ligeiramente para trás e pisca o lho a Aimar: OK, tens razão, pensa em pensamento de bola. É o grande momento do derby."


Rogério Azevedo, in A Bola

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