"Apesar de ainda estarmos em meados de novembro, a época desportiva em Portugal conta já com vários episódios no mínimo peculiares, que destacam (negativamente) a singularidade do nosso futebol.
Foi a própria Liga Portugal a dar o pontapé de saída neste conjunto de acontecimentos. Desde cedo, essa instituição foi incapaz de cumprir com o seu próprio regulamento e falhou no agendamento atempado, e dentro dos prazos por si definidos, das primeiras jornadas do campeonato. Na sequência disso, surgiu, no início de setembro, uma ameaça de falta de comparência do Nacional ao seu jogo no Dragão, por dificuldades logísticas no planeamento da viagem no curto intervalo de tempo de que dispuseram desde o anúncio da data e hora do jogo, até ao mesmo. Desde então, já tivemos um Tondela-Famalicão jogado em Rio Maior (a mais de 200 km de distância da devida localização), com um total de 532 espectadores e, na Segunda Liga, o Lusitânia de Lourosa a receber a UD Leiria no Estádio do Algarve, não só a meros 500 km de distância, mas também a um domingo às 20h30, com 73 bravos espectadores na bancada que perfizeram uma taxa de ocupação de 0.24%. Nos seis jogos realizados pelo Lusitânia de Lourosa como visitado, já foram utilizados quatro recintos distintos, não sendo nenhum deles o do clube.
Enquanto isso, prosseguiu também a festa da Taça (de Portugal), com um Celoricense-FC Porto a ser jogado em Barcelos e um Atlético-Benfica agendado para o Estádio do Restelo. Um exemplo (im)perfeito de igualdade de oportunidades e de condições. E reporto-me ao meu texto anterior, reforçando que o FC Porto teve a fortuna de ver o seu jogo dos quartos de final da Taça da Liga adiado, libertando o seu calendário, restando agora uma vaga por preencher na Final Four, que só será ocupada em dezembro.
Entre outros episódios, já houve um jogo adiado de forma unilateral por conta da Feira de Colheitas, em Arouca, e um encontro entre Estoril e Santa Clara agendado, por decisão da Liga, para um período de pausa de seleções, que mereceu duras críticas de, entre outros, Ian Cathro e João Carvalho. Ainda nesta esfera, o SC Braga realizou contra o Moreirense, na 11.ª jornada, o seu sétimo (!) jogo a um domingo às 20h30. São e serão sempre pormenores que pouco ou nada interessam ser discutidos, até porque não afetam os clubes de interesse, mas urge destacá-lo.
Acresce a tudo isto um ambiente de desconfiança e sobressalto constante, espelhado na mais recente, e abjeta, situação em que foi colocado o árbitro Fábio Veríssimo no estádio do Dragão. Mais incompreensível se torna quando na sua origem está um lance corretamente ajuizado e que, independentemente da decisão do árbitro principal, seria sempre invalidado após revisão VAR por fora de jogo de Victor Froholdt.
Só no futebol português é que é mais importante libertar comunicados, incendiar ânimos e hostilizar intervenientes, do que analisar os (muitos) problemas existentes. Só no futebol português é que se sucede uma jornada europeia sem vitórias, contra adversários de países com quem pretendemos rivalizar, sem que pouco, ou nada, seja debatido. Só no futebol português é que se dá o alargamento de um fosso entre os de cima e os de baixo, sem que qualquer sentimento de preocupação se desperte. Só no futebol português é que não há a mínima preocupação com a promoção do espetáculo desportivo. Recorro às palavras do João Carvalho aquando do episódio já mencionado, «Se tudo o resto não é profissional, nós não conseguimos ser profissionais (...) Se algum jogador quer vir jogar para Portugal e olhar para o resumo do nosso jogo, acho que ele não vem». Palavras que caem em saco roto… só no futebol português."

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