"Os sócios têm o poder, sábado, de decidir o que querem, mas ninguém terá a segurança de que as promessas, muitas irreais, vão ser cumpridas.
A derrota do Benfica em Newcastle não só comprometeu as possibilidades de passagem à próxima fase da Liga dos Campeões como também (e sobretudo) só pode ter agravado negativamente o estado de espírito de qualquer sócio e adepto, mesmo o mais otimista. Percebe-se que a continuidade na Champions até domine pouco as preocupações de quem se interessa ou gosta do Benfica — seria, passe o exagero, como alguém estar chateado com uma nódoa numa camisa cheia de buracos.
A derrota do Benfica em Newcastle, especialmente a incapacidade assustadora de competir ao mais alto nível, já no fim de outubro, já mais de um mês depois de José Mourinho, treinador de méritos reconhecidos, ter pegado na equipa reforça a ideia de que o tempo continua a ser perdido e de que não há nem se vê um pequeno sinal de esperança em que alguém se possa agarrar.
Talvez exista nesta reflexão algum dramatismo, próprio de quem está prisioneiro do momento e sem capacidade de dar um ou dois passos atrás para ver o cenário de outra perspetiva, afinal outros clubes passaram por bem pior e estão bem melhor.
É difícil, porém, pensar doutra forma quando foi o próprio Mourinho que preferiu falar do nível do Newcastle para não falar do nível do Benfica, depois de convidado a falar do desnível entre o futebol das duas equipas, que admitiu ter dado voltas e voltas à cabeça e de não ter encontrado no banco de suplentes uma solução para lá de Ivanovic. Haverá forma de concluir outra coisa que não seja a deficiente construção do plantel?
O Benfica, em St. James' Park, não foi mais, na segunda parte, que carne para triturar e é tão lícito perguntar como se chegou até aqui assim como perguntar como daqui se sairá. Será difícil, no entanto, que qualquer das explicações possa fazer sentido. Passado, então, mais de um mês do regresso de Mourinho ainda pouco se percebe o que poderá ser este Benfica do special one — em que esquema tático quer jogar, o que quer de jogadores como Ríos ou Sudakov, não chegou já a altura de Tomás Araújo ser central e evitar expô-lo a situações para as quais não está preparado, Aursnes não deveria deixar de ser pau para toda a obra, Schjelderup só serve mesmo para consumo interno? Quem está a ler este texto poderia fazer, pelo menos, mais 20 perguntas para as quais não terá respostas.
Acontece que, ao mesmo tempo, corre uma campanha eleitoral em que, como se previa, quase vale tudo menos arrancar olhos. O futebol, já se sabe, e como voltou a ser provado nas últimas Assembleias Gerais, nas quais foi chumbado o relatório e contas com o terceiro melhor resultado positivo de sempre e chumbado também o regulamente eleitoral, decidirá as eleições. A derrota em Newcastle dificilmente levará alguém a mudar a intenção de voto, já todos os sócios deverão saber quem querem como presidente. Mas fortalece convicções e alimenta insatisfações.
Os sócios terão, agora, controlo sobre o destino do clube, ou melhor, sobre quem vai ser eleito. O Benfica, com tudo o que se está a passar, é terreno fértil para que germinem as sementes do populismo, plantadas por promessas fáceis de quem tudo fará para ganhar nas urnas, mas também para germinar a intolerância. Haverá, depois, apelos à união e mais promessas de um futuro glorioso. Em vão.
A incerteza de hoje não desaparecerá amanhã. Continuará a haver divisões e fações preparadas a tudo — até para a utilização da bomba atómica, como descrevi, exageradamente, a 2 de outubro, o recurso de se deitar abaixo uma Direção através de deliberações negativas em AG sobre discussão e aprovação de relatório de gestão e das contas do exercício.
Cá estaremos dentro de um ano para ver se não estaremos a falar outra vez de eleições."

Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!