"O Sporting de Braga atrasou-se na luta por um título que não se lhe pode exigir, mas que persegue, legitima e saudavelmente. E Artur Jorge foi pela primeira vez questionado, após o empate caseiro com o Chaves e a apesar da vitória na Taça da Liga. É a vida de qualquer treinador. Mas se os adeptos sobrevalorizam resultados, aos analistas compete tentar ver mais fundo, perante um processo de reconfiguração em curso (um pequeno PREC) desde o jogo para a Taça na Luz, concretizado numa subtil mas relevante alteração tática, que começa por ser a inclusão de mais um médio com subtração de um atacante.
Ao hábito de ter Djaló e Bruma nas alas com Ricardo Horta na órbita do ponta de lança, sucede, também por força das ausências de Banza e Bruma, um alinhamento com Zalazar como médio mais ofensivo respaldado por outros dois, forçando o capitão Horta a partir mais vezes de um corredor lateral quando em ataque e também a movimentos de recuo quando chamado a participar no reequilíbrio defensivo. A questão é se a equipa está a ganhar com isso.
A grande força deste Braga de Artur Jorge esteve sempre na conjugação de dois fatores: um a intenção tática de coragem, audaciosa, de querer sempre transformar posses de bola em ataques e incluir, quando necessário, mais uma e outra unidade ofensiva; outro a qualidade (e quantidade) intrínseca dessas opções de ataque, fosse para lançar de início ou mexer com o jogo.
É que além de Ricardo Horta, Bruma, Banza e Álvaro Djaló, há ainda Abel Ruiz, Rony Lopes, Pizzi, o miúdo Roger, mesmo Zalazar e até há pouco André Horta. Poder de fogo nunca faltou, nem qualidade, do meio-campo para a frente. Daí para trás é que a realidade é outra, desde logo porque a equipa não tem tido uma dupla de centrais fiável, não só que permita subir linhas e controlar a profundidade defensiva sem sobressaltos, mas também eficaz com bola em ordem a permitir uma construção de maior qualidade.
E claro que a ausência de Al Musrati agravou mais o problema, que poucos conseguem com idêntica competência o binómio equilibrar sem bola/construir pressionado quando com ela. E também por isso foi tão útil que surgisse João Moutinho, já sem a frescura de tempos idos, mas mantendo intactas a lucidez na tomada de decisão e a competência rara na execução.
Com o regresso de Al Musrati e Bruma, mais o retorno de Niakaté e Banza após a CAN, a curiosidade será perceber o que fará Artur Jorge: se insiste no rumo atual, em que Zalazar se tornou mais influente, ou se devolve Horta às entrelinhas e volta a acelerar em simultâneo nos dois corredores laterais.
Necessariamente, a estratégia de cada jogo determinará pontualmente o melhor dos dois caminhos. Se é certo que com mais um médio e maior proteção à linha defensiva a equipa tem sofrido menos golos - mesmo se jogos caseiros com Moreirense e Chaves não possam ser testes definitivos – também é óbvio que o melhor Braga, o mais entusiasmante, foi o que voou nas asas de Bruma e Djaló, para transformar acelerações galopantes em golos de Banza e Horta.
Todas as equipas, e os seus treinadores, vivem a equilibrar quotas, de audácia e segurança. O Braga está numa interessante encruzilhada. Para sair dela, poder juntar finalmente Al Musrati a Moutinho pode ser um bom princípio, enquanto espera por resgatar o melhor Bruma. Decisivo mesmo teria sido contratar em janeiro um central de topo. Mas não aconteceu, não sei se porque não quis ou simplesmente não pôde."
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