"Como se organizavam os 'football matches' do Sport Lisboa nos primeiros dois anos de atividade?
No começo do século XX deu-se o advento do futebol em Portugal. Deste tempo data também o início do Sport Lisboa, que, nos seus primeiros dois anos, realizou uma dúzia de jogos de futebol de carácter público. O tesoureiro Manuel Gourlade mantinha organizada a contabilidade. Felizmente, parte desse acervo sobreviveu, e hoje temos acesso a um conjunto de documentos que deixam pistas sobre a organização dos jogos de futebol.
Primeiro vieram as regras de futebol, importadas de Inglaterra e traduzidas por 2500 réis. De seguida, compraram-se cabides, chapas e varas de ferro para o 'balneário'. Este funcionava ao ar livre no quintal da sede alugada na Travessa das Zebras, que possuía um poço que viabilizava os banhos e a lavandaria. Funcionava ainda como arrecadação para os materiais de jogo, cujo transporte era faturado como 'conducção de vários objectos para o campo'. O preço variava e podia incluir o pagamento a entre um e três 'rapazes para armar o campo' ou para 'montagem de ferros e aparelhagem de dois travessões e quatro varas para redes dos goals', ou seja, as balizas.
Além disto, a concentração popular em torno dos jogos exigia um garante de segurança, pelo que se valorizou a contratação de polícias, sobretudo da 'esquadra de Belém'.
Mas são dois os itens cuja frequência é maior: cal e limões. A sua coexistência alia-os num papel indispensável ao funcionamento destas partidas.
Os limões, comprados às dúzias, tinham uma função de refresco. A distribuição de bebidas não tinha ainda entrado na rotina desportiva, e os limões, nos intervalos, eram servidos aos quartos. Mais tarde, tornou-se frequente a oferta de um lanche aos adversários. Para isso compravam-se laranjas e limões, para acompanhar dezenas de sandwiches e pastéis. Noutras circunstâncias, o Clube alargava a compra para vinho branco, cerveja, gasosa, bolos e marmelada. Mais do que uma vez a compra foi feita numa casa de pasto de Belém.
A cal, por seu lado, servia para marcar o terreno de terra batida, usando um regador. A imprensa saudava o Clube pelas 'suas linhas marcadas a cal' e 'goals com rede (...) n'um local público, onde talvez no dia seguinte um exercício de cavalaria faça desapparecer um instantes o que custou boas horas de trabalho'. Não seria problema, pois os que para isso trabalhavam faziam-no em benefício do seu clube, em torno de dois objetivos comuns: o gesto pelo desporto e a amizade.
Descubra outros documentos basilares da história do Clube na área 1 - Ontem e Hoje, do Museu Benfica - Cosme Damião."
Pedro S. Amorim, in O Benfica
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