"Culpa de Salvador, culpa do Benfica, culpa do Málaga? Quem escreveu este guião conseguiu levar o sorriso de quem tinha tanta alegria a jogar.
Walter Avancini foi um realizador brasileiro expert em telenovelas que nos deixou obras inesquecíveis como Gabriela Cravo e Canela, a partir de um romance notável, dos muitos notáveis de Jorge Amado.
Disse-me um dia, quando o entrevistei em Lisboa, estava ele a realizar a Dona Branca, protagonizada pela eterna Eunice Muñoz, que uma novela só pode ter sucesso "se o final for o mais imprevisível que te passe na cabeça e será tão poderosa quanto mais enrolares a trama".
Ora bem, Avancini já não está no mundo dos vivos e não pode assistir à mais longa novela de verão do futebol português protagonizada por Ricardo Horta. É irreal o que se passa. Horta tem uma alegria de jogar que contagia os colegas e perturba os adversários. Tem ou tinha, porque quem o viu na tarde de anteontem há de ficar desconfiado. O Braga mostrou todo o seu poder de fogo, marcou por cinco vezes, está a ter um início de campeonato fulgurante, há todos os motivos para sorrir, mas sempre que a imagem captava o rosto do capitão via-se um ar tristonho, nem um sorriso, o que não hábito nele. Terá a ver com esta novela? Talvez sim, pode ser que sim. Porque não é fácil fazer parte de um enredo tão estranho - culpa de Salvador, culpa do Benfica, culpa do Málaga? Uma coisa parece certa, não é culpa do jogador. E se é verdade que ele quer jogar no Benfica, eu acredito que sim, deviam facilitar-lhe a vida e não jogar com a vida de um profissional que só merece elogios.
Esta análise passa por Horta e pelo Braga, que está poderoso, que marca como ninguém, que surge a morder os calcanhares ao FC Porto, o líder da prova, isolado, porque o Benfica adiou a receção ao Paços de Ferreira para se virar para Champions. E muito bem. Os dragões jogaram contra o Sporting à campeão, tiveram um "killer instinct" (instinto matador) de que tanto falava esse senhor do futebol chamado Bobby Robson, porque era assim que ele queria as suas equipas, e conseguia, como se viu quando treinou o FC Porto (de 1993 a 1996), e até no Sporting, de onde foi despedido quando estava em primeiro lugar (Sousa Cintra arrepende-se desse erro de gestão, porque nas duas épocas seguintes Robson foi bicampeão pelo FC Porto).
Golos é o que a malta mais quer num jogo de futebol e vá lá que para início de campeonato nem nos podemos queixar muito - e lá voltamos ao Braga que tem sido o maior alimentador deste nosso gosto por ver a bola bater nas redes. Nas outras redes, as sociais, já se vai falando de um Braga pronto a discutir o título, como no tempo de Domingos Paciência. Huum, não será fácil, este quintal à beira do Atlântico parece muito pequeno para mais do que três equipas."
O Benfica não tem culpa nenhuma neste imbróglio. Aliás, o Benfica tem sido a única parte interessada em tentar resolver a situação.
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