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segunda-feira, 7 de março de 2022

O pé esquerdo de Grimaldo apazigua as intermitências de Taarabt


"Aproveitando um erro do marroquino, o Portimonense até começou a ganhar, mas o Benfica deu a volta e venceu por 2-1. Após a suspensão do jogo devido ao lançamento de material pirotécnico para o relvado, Grimaldo empatou — depois de boa ação de Taarabt —, tendo Gonçalo Ramos selado a vitória de uma equipa que continua sem convencer

O que Adel Taarabt tira, Adel Taarabt (às vezes) dá. Ter o marroquino em campo é ter a certeza de que acontecerão coisas, seja em formato de saídas de pressão com classe, fintas de corpo ou passes a rasgar ou, em sentido inverso, precipitações, erros que podem comprometer ou uma espécie de sofreguidão de fazer, a cada lance, a melhor ação do jogo.
Em Portimão, Nélson Veríssimo apostou, pelo quarto encontro seguido, em Taarabt a titular. O técnico, que na véspera da partida havia justificado a escolha com as “características” de Adel, parece considerar que, para este momento do Benfica, é melhor o repentismo de Taarabt do que a segurança de João Mário. A busca permanente pela genialidade do marroquino ganha preferência face ao conservadorismo do futebol do português.
No triunfo, por 2-1, do Benfica no terreno do Portimonense, ambas as faces de Taarabt foram visíveis, ainda que o pior lado do médio tivesse sido o que obrigou o Benfica a correr atrás de uma desvantagem. Isto quando foi permitido correr, dado que nos primeiros 40 minutos pouco ou nada se jogou.
A primeira nota de destaque do desafio foi de preocupação. Ao minuto 14, um apanha-bolas caiu, motivando a entrada das equipas médicas no terreno de jogo e a paragem da partida. O jovem foi levado de maca e, passado o susto — a reportagem da Sport TV informou que se havia tratado de uma queda feia, sem consequências muito graves —, veio o perigo. Após combinação entre Everton e Grimaldo, Gonçalo Ramos, de pé esquerdo, atirou para fora na primeira oportunidade do embate.
Aos 25′, o Portimonense chegou à vantagem, aproveitando a face negativa das tais “características” de Taarabt. O marroquino errou um passe, entregando-o a Carlinhos. O brasileiro do Portimonense aproveitou a passividade dos centrais do Benfica — que nisto dos golos sofridos é raro haver culpas não repartidas — para isolar Welinton, que bateu Vlachodimos com calma.
Se o jogo não estava com muito ritmo, passou a estar parado pouco depois dos 30 minutos. Devido ao constante arremesso de material pirotécnico vindo da zona dos adeptos do Benfica, o árbitro teve de interromper o encontro. Durante quase 10 minutos esteve a bola parada, mas não para bater um canto ou um livre. São as intermitências peculiares do futebol português.
No passado recente, o Portimonense tem sido um pequeno pesadelo para os treinadores do Benfica. Em 2018/19, no Algarve, Rui Vitória perdeu por 2-0 na sua última partida nas águias. Na oitava jornada deste campeonato, Jorge Jesus recebeu os algarvios depois de sete triunfos nas sete rondas iniciais e dias depois de bater, por 3-0, o Barcelona. O desaire em casa foi o início do fim para o técnico, invertendo a tendência altamente positiva que a temporada, até aí, tinha.
Nélson Veríssimo até poderá ter tido tempo para pensar nestes fantasmas durante os minutos em que a partida esteve parada, mas por muito que o seu Benfica não encante, é mais fácil ganhar quando se tem canhotas como a de Grimaldo. Durante o longo período de descontos da etapa inicial, o espanhol aproveitou uma bola solta depois de uma finta de Taarabt — o lado bom do marroquino que faz coisas acontecerem — para, com a precisão da sua zurda (canhota), empatar, confirmando o estatuto de excelente rematador de fora da área. Mesmo em cima do descanso, num livre direto, Grimaldo roçou o 2-1.
2-1 esse, que, no segundo tempo, não demoraria a chegar. Rafa, aos 50′, fugiu pela direita e Gonçalo Ramos, depois de defesa incompleta de Samuel Portugal, encostou para o seu quarto golo nas últimas seis rondas da I Liga. Confortável com Veríssimo, o jovem vai fazendo os golos que lhe escaparam durante a primeira fase da época.
Em vantagem, o Benfica quase nunca teve oportunidades para avolumar o resultado. Na frente, Yaremchuk — de braçadeira negra devido à guerra no seu país — era um corpo estranho, com pouca presença no jogo no seu regresso à titularidade mais de um mês depois.
Com o muito nervoso Paulo Sérgio a ter sido expulso ainda na primeira parte, o Portimonense confirmou algumas debilidades que levam a que os algarvios, depois de terem surpreendido na Liga até ao natal, não vençam há 11 rondas. Wellington, aos 55′, e Relvas, aos 78′, tiveram oportunidades para fazerem o 2-2, mas o resultado pareceu ter estado em aberto até final mais por inoperância dos visitantes.
O intermitente Benfica de Nélson Veríssimo consegue chegar à segunda vitória seguida no campeonato, às quais se junta a boa imagem dada no empate frente ao Ajax. A irregularidade da equipa parece calcada da essência de Taarabt, uma das recentes apostas pessoais do treinador que, tal como o coletivo, alterna entre o promissor e o desencorajador, o passe a rasgar e a perda de bola. Entre ambos os universos, entrelaçados pela qualidade de homens como Grimaldo, vai o Benfica mantendo-se na luta por objetivos."

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