"Exibição pobre do Benfica em Arouca, que ainda assim valeu um tímido regresso às vitórias (2-0). Marcaram Darwin e Gonçalo Ramos, com a equipa da casa a falhar uma grande penalidade ainda na 1.ª parte que poderia ter dado ao jogo uma história diferente
Mal o apito final soa em Arouca, a câmara aproxima-se de Vertonghen e o belga está de mãos na ilharga, olhar vazio, virado para o horizonte, respiração rápida sem ser ofegante. Nem parecia que o Benfica tinha voltado às vitórias, que o resultado até havia sido de 2-0, conjunto de números e travessões que, quem olha sem ter dado um olhinho ao jogo, vê como um “cumpriu”.
Taxativamente, o Benfica cumpriu em Arouca. Venceu e na pior das hipóteses ficará à mesma distância de FC Porto e Sporting no final da jornada. Artisticamente falando, esta noite de sexta-feira não poderia ter sido mais soporífera. A equipa de Nélson Veríssimo é, por estes dias, um conjunto descaracterizado, de cabeça baixa, que talvez tenha muito a agradecer ao brasileiro Basso, rapaz com sobrenome de ciclista italiano, que cometeu uma grande penalidade tonta na sua área e depois ainda mais tontamente falhou o empate num castigo máximo do outro lado, não fosse o karma ainda não o ter avisado que há dias em que mais vale de facto um homem não sair de casa.
Isto ainda na 1.ª parte, da qual não há muito mais para contar. Perigo nas áreas? Nulo. Futebol bem jogado? Mais nulo ainda, com o Benfica sem criatividade para dar a volta a uma equipa com inúmeras fragilidades, tentando as soluções do costume (cruzamentos, arrancadas de Darwin) e com velocidade e destreza pouco coincidentes com a qualidade individual do plantel encarnado. Se a figura do jogo era João Basso, o futebol de ambas as equipas também o era: baço, triste, vazio.
A entrada de Everton após o intervalo para substituir um desaparecido em combate Yaremchuk talvez procurasse dar mais rasgo ao jogo do Benfica, mas o brasileiro tão-pouco sobressaiu. Aos 55’, uma boa abertura de João Mário para Rafa quase dava golo, mas Victor Braga defendeu com uma estirada tão vistosa quanto eficaz. Daí para a frente, o Benfica praticamente desapareceu e os assobios que começaram a chegar das bancadas eram a prova sonora e impaciente disso mesmo.
Houve então mais bola para o Arouca, que tentou pressionar mais não só a saída de Vlachodimos como o próprio carrossel de trocas carregadinho de inconsequência que o Benfica ia experimentando a meio-campo, sem nunca descortinar espaços para algo mais. Foi precisamente numa perdida a meio-campo que Bukia ficou perto do empate, bailando em frente a Vertonghen antes de desferir um remate cruzado que passou perto do poste da baliza do Benfica. Aos 80’, foi a vez de Antony aparecer em boa posição na lateral, com Vlachodimos bem a fechar o ângulo.
E seria já nos descontos que surgiria o 2-0 para o Benfica, um golo enganador se olharmos para a produção pífia que se viu em campo e à tremedeira dos encarnados nos últimos 20 minutos, frente a uma equipa que mal se preparou devido a um surto de covid-19. Ainda assim, que fique pelo menos a bela execução do livre lateral por parte de Grimaldo e o toque subtil, cheio de classe e intenção, de Gonçalo Ramos – haja um momento de beleza rara num jogo que mais não fez do que nos ferir os olhos.
Vertonghen, que anda há anos e anos nisto, saberá muito bem o que é um jogo pobre de futebol. Talvez daí toda aquela desolação na cara de um homem no final do encontro, com o ar gélido da Serra da Freita a esgueirar-se-lhe pelos ossos, a lembrar-lhe que há vitórias e vitórias e esta valeu três pontos mas nada mais além disso."
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