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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Dragão e Jamor: Tão longe e tão perto

"Quando se é adepto de um clube de futebol, há duas formas de ver a sua equipa a jogar: no estádio ou pela televisão. Esta semana passei pelas duas experiências e sei bem qual delas prefiro (ao vivo, obviamente). Para o jogo no Dragão tive que me desenrascar com um stream (legal) no telemóvel, conectado a uma tv através de um chromecast (quando se é fanático, viramos até especialistas em tecnologia). Tudo isto porque estava no estrangeiro, a muitos quilómetros de distância da cidade do Porto.
Fui acompanhando durante o dia a habitual ida à "Sícilia" do Benfica. Cartazes insultuosos de recepção à cidade, bonecos de árbitros e jogadores do Benfica pendurados em pontes, a usual tradição de rebentar petardos nas imediações do hotel onde a equipa está hospedada e notícias de agressões a adeptos encarnados. Digo já que sei bem que há semelhante gente estúpida e ignorante Benfiquista para criar confusão e que a ida a Lisboa do FC Porto também não é um passeio sobre rosas. Mas o extremo a que as idas do Benfica à cidade Invicta chega não é comparável. É aliás uma das principais razões porque o FC Porto continua a ganhar mais ao Benfica do que o Benfica ganha ao FC Porto no confronto directo. É que os de azul vivem estes clássicos com muito mais intensidade e agressividade. Uns jogam de faca nos dentes e outros de sorriso aberto. E enquanto o Benfica não compreender que este é um jogo diferente de todos os outros, Sporting incluído até, vai continuar a perder. Eu bem sei e aprecio que o Benfica não é um clube dado a guerras e que olha muito mais para si que para os outros. Nas bancadas da Luz não se canta contra os outros clubes, não há expressões de "até os comemos" ou "ides sofrer que nem cães", mas a verdade é que isso lhes dá uma gasolina que nós não temos. Somos uns bons rapazes, naquele campo, é o que é. Taarabt sofreu uma agressão de Pepe? Só tinha que ter ficado no chão a rebolar para trás e para a frente, até exigir a actuação do VAR. Ferro sofreu empurrão de Soares no lance do penalty? Só tinha que se ter atirado para o chão e os jogadores do Benfica rodeado o árbitro. É bonito? Não, não é, mas é assim o futebol português. 
Quanto ao futebol jogado, o FC Porto foi um justo vencedor. Impôs o seu jogo em campo e criou várias oportunidades de golo, contra o futebol demasiado expectante do Benfica. Como treinador de bancada, não entendi a retirada do Cervi neste jogo que tanto apoio dá ao Grimaldo, mais a mais quando este ia ter uma luta titânica contra Marega. Também não entendi o desespero final de colocar três pinheiros na área (Vinícius, Seferovic e Dyego Sousa), sem ninguém para meter lá bolas com qualidade.
No final perdemos e voltámos a dar mais um balão de oxigénio ao nosso maior rival. Quando podíamos ter dado um xeque-mate neste campeonato, voltámos a ressuscitar um FC Porto em dificuldades e assim lá vamos para uma reta final de campeonato igual às últimas: a sofrer até ao fim.
De regresso a Portugal, resolvi ver o jogo da 2ª mão da meia-final da Taça de Portugal de maneira completamente oposta. Mesmo num dia de semana, viagem de 3 horas de carro de Lisboa até Famalicão, com paragens pelo meio para recolher mais companheiros e um momento tão especial: vermos num dos viadutos sobre a A1 o pai de uma amiga nossa (que ia connosco no carro) com uma bandeira do Benfica a esvoaçar: uma linda tradição já de muitos anos feita sempre que o autocarro do Benfica passa naquele local (ao que o motorista costuma responder com uma buzinadela e sinais de luzes), mas que desta vez foi feito para nós. De alma encarnada cheia chegámos a um restaurante perto do estádio onde nos refastelámos com uns rojões e pudim abade de priscos deliciosos. Que bem se come no Norte!
Mas depois na chegada e saída do estádio, o choque com a realidade do futebol Português: confusão entre adeptos, notícias a chegar-nos de adeptos do FC Porto nas imediações e um ambiente tenso no estádio, como se o Famalicão tivesse alguma espécie de rivalidade com o Benfica. Na saída do campo deu até para presenciar o triste espectáculo de uma senhora bem nos seus 50 anos, segura no alto de uma varanda, a chamar-nos nomes e a deitar-nos água para cima com uma mangueira (!). É bonito? Não, não é, mas é assim o futebol português.
Restou aos 400 Benfiquistas, em minoria como poucas vezes nos sentimos, cantar até as gargantas doerem para puxar por uma equipa que parece cansada e abatida. Safou-se a ida ao Jamor, no meio de defesas espantosas de Vlachodimos (a fazer recordar os tempos de Saint Michel Preud'Homme - era ele e mais 10), via aberta entre Grimaldo e Ferro (a sério, o que se passa com Ferro? E como Lage ainda não resolveu este lado esquerdo da defesa, que anda a meter água por todo o lado?) e um ataque desinspirado, principalmente Seferovic que parece estar a fazer um frete e o extremo favor de correr um bocadinho aos adeptos do Benfica.
Apito final e festa imensa nas bancadas. Nos jogadores nem tanto, nem sei porquê. Ou sei: não têm noção da beleza e importância da final da Taça de Portugal. Também por isto é que o Benfica só venceu esta competição três vezes nos últimos vinte anos. Depois foi uma espera absurda de 40 minutos para poder sair do estádio, já para lá das 23h de um dia de semana, para iniciar nova viagem de 3 horas até Lisboa, de modo a dormir umas horinhas e voltar ao trabalho. Assim se tratam os poucos adeptos que ainda se dignam a ir aos estádios. É bonito? Não, não é, mas é assim o futebol português."

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