"Num cenário nevado, o Benfica provou que com união se consegue ultrapassar todas as adversidades.
A neve caiu sob Moscovo desde o meio-dia, tornando o relvado branco. Os termómetros indicavam vários graus negativos. As expectativas não eram as melhores para a equipa lisboeta que iria enfrentar, nesse dia, o Dínamo Moscovo, no Estádio do Torpedo, para 1.ª mão da 3.ª eliminatória da Taça UEFA 1992/93, um adversário que não se devia subestimar. No início dos anos 90, acreditava-se que as equipas da Europa do Leste estavam a passar por uma fase de declínio, devido ao impacto que o fim da União Soviética teve no desporto. Todavia, a queda de três grandes clubes do futebol europeu, em três competições europeias, frente a equipas de Moscovo tinha contrariado esta ideia.
Os jogadores benfiquistas entraram no relvado, equipados com luvas e collants, prontos a mostrar o seu valor mesmo 'fora do seu «habitat»'. Vítor Paneira foi o primeiro a marcar o ritmo e a comandar as operações, e 'foi «escutado» pelos colegas'. Aos cinco minutos, Paneira criou uma situação de risco para os moscovitas, inaugurando uma sucessão de lances que 'permitiram fragilizar o adversário, surpreendentemente (ou talvez não) mais inadaptado às péssimas condições climatéricas'. Enquanto isso, no outro meio-campo, Silvino 'até corria o risco de... morrer de frio'.
Schwarz, Isaías e Mostovoi, que 'pareceu mais à vontade na neve do que na relva', seguiram os trilhos de Vítor Paneira e, com um excelente passe deste, Isaías inaugurou o marcador, aos 36 minutos. Um 'golo naturalíssimo, de prémio ao melhor futebol e à melhor equipa', que na 2.ª parte conseguiu aumentar ainda mais o fosse de supremacia para os moscovitas, como Isaías a bisar, após um passe magistral de Mostovoi.
Nos últimos 15 minutos, um erro defensivo e um livre permitiam o empate pelo conjunto russo, o que ensombrou a prestação artística do conjunto 'encarnado'. Todavia, no regresso, o sentimento era que esta era a 'primeira grande vitória de Toni', que tinha o cargo de treinador há um mês, na sua quarta passagem pelo Clube nesta função, pois a 'coesão é imprescindível para a concretização de qualquer trabalho e Toni sabe-o muito bem. Moscovo mostrou que se está no caminho correcto'. E o tempo dar-lhes-ia razão pois, na 2.ª mão da eliminatória, a equipa orientada por Toni saiu vencedora por 2-0 e apurou-se para os quartos de final da Taça UEFA, um feito que não era conseguido há 10 anos.
Pode ficar a saber mais sobre estes verdadeiros 'homens das neves' na área 22 - De Águia ao Peito do Museu Benfica - Cosme Damião."
Lídia Jorge, in O Benfica
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