"Durante milhares de anos, a competição desportiva era essencialmente interpretada apenas a partir dos aspectos positivos mais simples, subjacentes à prática física: a manutenção e salvaguarda das capacidades físicas do indivíduo, o ânimo próprio que leva à superação individual, a concorrência directa com o outro, o esforço conjugado no seio das equipas para o vitória colectiva sobre opositores e, por fim, o reconhecimento e glorificação pública dos vencedores, com a inevitável projecção da imagem do campeão sobre o ego do espectador passivo.
Todavia, nos tempos modernos, a formidável pressão mediática potenciada pelas transmissões directas da rádio e da televisão não só desenvolveu exponencialmente o interesse e o consumo dos públicos relativamente aos eventos desportivos, como lhes carreou colossais investimentos publicitários, tendo provocado o dramático sobredimensionamento daquele último factor - o da glorificação - no paradigma em que as sociedades definem agora todo o processo desportivo.
Do saudável exercício físico-somático inicial, em que o Homem fundamentalmente desfruía de si próprio e da Natureza, aos restritos campos de jogos fechados em parques e pavilhões baptizados por regras, e às competições universais organizadas e aos seus grandes eventos mediáticos, decorreram séculos e séculos. Mas bastaram apenas quatro ou cinco décadas para que chegássemos onde hoje estamos, podendo dizer-se, sem erro, que toda a epifenomenologia envolvente do Desporto parece muito mais influente do que o esforço e o exercício primordiais do Atleta. Os conflitos em torno do Desporto que agora vivemos nas bancadas e nos sofás (e nos corredores da Justiça...) até aparentam ser mais determinantes e são, certamente, muito mais escandalosos do que os desafios em campo. Mas, na verdade, não vale a pena iludirem-se os ingénuos e os corrécios, porque, nos registos finais, não é assim que fica escrito: como dantes, como sempre, só ganha, mesmo quem tiver mais pernas. E mais cabeça.
PS: Quero deixar aqui um grande abraço solidário ao jovem Filip Krovinovic: sê forte e não desesperes, porque, felizmente, estás no Benfica e, aqui, todos juntos, sabemos esperar por ti!"
José Nuno Martins, in O Benfica
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