"Prevenir o erro de quem julga deveria ser algo de tão natural quanto consensual.
A adopção do videoárbitro, em português VaR, acrónimo que remete para a nomenclatura de um qualquer antibiótico, está a custar um bocadinho mais do que se poderia supor, mas já é inequivocamente irreversível. Daqui a uns tempos não só não terá adversários declarados como todos aqueles que foram contra a respectiva introdução passarão a ter o pudor, ou talvez o decoro, de esquecer a sua oposição e tal inovação. O que é que se há-de fazer? Há gente mesmo assim, de tudo desconfiada e em tudo preparada para oferecer uma teoria da conspiração. Se os desafios nocturnos fossem disputados à luz de velas, gambiarras e candeeiros de petróleo, e alguém advogasse a respectiva substituição por torres de iluminação artificial, estou absolutamente seguro que nem tal propósito escaparia às malhas da contestação.
O mesmo se poderia dizer também de outro ovo de colombo: a contagem do tempo de jogo. É por demais evidente que a solução para prevenir tantas e tão ostensivas discrepâncias só pode ser aquela que já vigora em diversas outras modalidades, a saber: bola em jogo e o relógio anda, bola parada e o relógio pára.
Mas haverá alguém que possa ser contra isto? Claro que sim, há. Contra isto e contra qualquer outra medida que tire poder aos árbitros. Porque aqui funciona na perfeição o sistema dos vasos comunicantes - o que desce de um lado sobe por outro. Ou seja, prevenir o erro de quem julga deveria ser algo de tão natural quanto consensual. É minha convicção que subtrair discricionaridade equivale a reduzir a margem de erro na decisão arbitral.
Então qual é o problema? O problema é esse mesmo: assim sobraria pouco espaço para se aplicar o coeficiente do erro humano. Ou seja, dando um exemplo concreto: que umas vezes se discuta a intenção e noutras a intensidade. Conforme o caso.
Mas a prova provada que aqui não cabem inocências é dada pela própria UEFA, nomeadamente ao não permitir certas repetições nos ecrãs do estádio. E até em transmissões directas.
Bem pode essa gente proclamar insignes princípios mas viver de acordo com eles é coisa completamente diferente. Reza a lenda popular que no curso do árduo caminho que levou Agostinho de Hipona a transformar-se em Santo Agostinho, este usava orar nestes termos: «Senhor, dai-me a castidade! Mas não já, não já...»"
Pedro Teixeira Pinto, in A Bola
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