"A 25 de Agosto de 2014 vi o Raúl ser substituído aos 60 minutos por Diego Simeone em Vallecas. À época até pagaria o bilhete só para ver aquele futebol lírico do Rayo de Paco Jémez, onde até aos nossos bem conhecidos Zé Castro e Abdoulaye Ba, centrais de posição, eram permitas as maiores habilidades. Não havia maior contraste para futebol 'con ganas de triunfar' do Atlético e, em silêncio (ofício oblige), dei por mim a vibrar com cada perda de bola do mexicano que, admito, nunca havia observado anteriormente e de quem apenas tinha ouvido falar pelas excelentes estatísticas que trazia do América e da selecção mexicana.
Assim que levantaram a placa que ordenava a saída do camisola 11 logo me segredou perentório o meu colega de bancada "No me gusta". Antigo responsável pelo recrutamento para a academia do Atlético Madrid, agora a trabalhar para um clube da Premier League, para ele o diagnóstico estava feito e assumido: o reforço rojiblanco para La Liga 14/15 era um "tonto".
Da mesma forma que verifiquei a excessiva facilidade com que sistematicamente perdia a posse da bola, fruto de um processo de decisão ainda demasiado ingénuo para o futebol europeu, não deixei de ficar extremamente interessado pela coragem, a disponibilidade, a dinâmica fluida, com dimensões atléticas e técnicas já bastante evoluídas, que Raúl Jiménez imprimia a todas as iniciativas com bola ou pela posse da bola.
Eu trabalhava então para um gigante adormecido do futebol alemão, atolado na 2.ª Bundesliga, fruto dos devaneios de grandeza de dirigentes e empresários. A árvore das patacas tinha sido seca pelas comissões, ordenados e prémios de assinatura de 'falling stars' como Maniche. A minha única esperança de um dia vir a recrutar um jogador do vencedor da Liga Europa era esperar por aqueles que mais tarde ou mais cedo vão parar ao caixote dos 'dispensáveis'. Percebi naquele dia, no dia da estreia do mexicano na liga espanhola, que Raúl Jiménez tinha tudo para se dar mal tanto com a 'afición' do Atlético como com Diego Simeone. Como tal, o meu interesse no jogador aumentou exponencialmente! Tinha entrado no meu radar e daqui nunca mais saiu, até pela demora em afirmar-se como titular no Benfica de Rui Vitória.
Foi pois com sentimentos mistos que o vi chegar ao Benfica, para mais pelas verbas envolvidas. Se por um lado teria agora oportunidade de acompanhar este jogador bem mais de perto, por outro, o investimento realizado na sua aquisição obrigava, quase que necessariamente, a uma aposta consistente na sua utilização e assim sendo, novamente, um titular de uma grande equipa como o Benfica dificilmente estaria ao alcance de um grande clube alemão em fase de recuperação financeira e desportiva, mesmo que entretanto já tivesse alcançado a promoção para a 1.ª Bundesliga.
Tal como em Madrid, embora com contornos diversos, Raúl tem tido grandes dificuldades em convencer o Estádio da Luz. Caucionado pelo engenho de marcar em momentos decisivos para a sua equipa e não raras vezes com indiscutível nota artística, mesmo assim será difícil encontrar adepto encarnado que o prefira ao pistoleiro Jonas, ou mesmo ao recém chegado Seferovic.
O mexicano não tem tido vida fácil desde que trocou de continente, mas quer parecer-me que esta situação terá tanto por culpa própria quanto pela incompreensão alheia. Ou será que é congénita a dificuldade que alguns craques têm em encaixar o seu 'futebol natural' em campeonatos onde a cientificidade (generosamente chamemos-lhe assim...) defensiva se sobrepõe ao primado do golo e do 'espectáculo desportivo'?
Mas isto também pode explicar o porquê de Rui Vitória querer ter no banco uma arma deste calibre...
Raúl Jiménez nasceu para ser um grande avançado. É o jogador que se ama e que se odeia. É o jogador que traz gente aos estádios porque traz imprevisibilidade ao jogo.
Está tudo lá. A paixão pelo jogo e a sede pela vitória acompanhadas por um biótipo perfeito e uma técnica sempre disponível para qualquer forma de finalização. Se os avançados fossem desenhados num estirador, Raúl Jiménez seria o esboço para qualquer um. É certo que cada jogador tem o seu ritmo de maturação, mas também é verdade que num futebol cada vez mais impaciente e exigente com a juventude, certas decisões no jogo, alguma falta de rasgo nas movimentações sem bola, aos 26 anos já começam a pesar como cadastro. Parece que o jogador ainda não é tudo aquilo que podia ter sido. Mas o que o impede de ser?
Numa equipa a pisar o risco da crise desportiva, que sucessivamente joga 'a diesel' sem conseguir passar da quarta, a 'fuerza' do mexicano é exactamente do que Rui Vitória pode estar a precisar desde o apito inicial.
A verdade é que ao contrário de muitos outros avançados que necessitam de ter todo o carinho e de algum vento de bolina para ganharem a confiança que caracteriza um matador, deste mexicano podemos esperar sempre tudo. Sem muitos minutos de jogo, ele marca muito e marca bem, da mesma forma como por vezes parece jogar pouco e jogar mal.
No futebol por vezes quando se quer evitar um terramoto e preciso dar um abalo e a mudança de estatuto no seio de um plantel pode ser exatamente do que este Benfica necessita para sair da letargia.
A minha sugestão é esta: Raúl Jiménez e mais dez e podemos conversar antes mesmo do Natal.
'Fuerza Mexico'"
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