"É indesmentível que a entrada de Renato Sanches no onze principal do Benfica revolucionou o futebol da equipa, soltando as amarras e o vazio de ideias que o miolo do terreno encarnado vinha a denunciar na fase inicial da temporada. Um miúdo de 18 anos foi a solução encontrada por Rui Vitória, já depois de ter tirado Nélson Semedo e Gonçalo Guedes da cartola. E o jovem tem impressionado pela forma como preenche o meio-campo e exibe maturidade.
É uma das revelações do campeonato e trouxe outra dinâmica ao futebol dos encarnados, pela forma aguerrida com que pressiona e recupera bolas, mas também pela facilidade que mostra no transporte, visão de jogo, qualidade de passe e o remate fácil, que já lhe valeu 2 golos de belo efeito. Rapidamente se habituou ao futebol dos 'graúdos' e as suas qualidades indiciam que podemos estar na presença de um futuro grande jogador. No entanto, há que o deixar desenvolver e deixá-lo ultrapassar as naturais etapas de crescimento, que passam muito por ter mais jogos nas pernas, vitais para a sua afirmação. Os rótulos precoces de prodígio, comparações com grandes estrelas mundiais e os acenos de transferências não contribuem e criam um peso adicional nas costas do jogador sem haver necessidade.
O tempo será o melhor conselheiro. Habituado a jogar numa liga portuguesa, em que o Benfica defronta uma maioria de adversários com blocos defensivos muito baixos, serão as partidas de maior exigência e dificuldade que nos darão uma maior certeza sobre o potencial de evolução do jogador. Sem o brilhantismo de outras partidas, as exibições com FC Porto e Zenit foram positivas e confirmam que à medida que for acumulando jogos de elevado nível, poderá completar a sua aprendizagem.
A robustez física e bom toque de bola de Renato Sanches permitem-lhe combinar técnica e agressividade, sentindo-se confortável nos momentos defensivo e ofensivo. Tem por isso capacidade e atributos para desempenhar várias funções no corredor central, característica que tranquiliza qualquer treinador.
O jogador dá também nas vistas pela elevada confiança dentro de campo. É importante que não deixe que a fama e o estrelato o desconcentrem e que continue a saber lidar com a pressão e responsabilidade de jogar num grande do futebol português. Nesse aspecto, o papel do treinador e dos companheiros, assim como dos dirigentes, é essencial, no sentido de proteger o jogador e orientá-lo para o seu crescimento.
Com pouco mais de 20 jogos pela equipa principal do Benfica. sucedem-se as notícias que dão como certa a sua saída no final da temporada. Seria importante que estes talentos projectados pelos clubes nacionais. aos quais se podem juntar nomes como Rúben Neves ou Gelson Martins, entre outros, pudessem permanecer mais tempo nas equipas que os projectaram. Seria benéfico para os clubes, que manteriam jogadores de qualidade da sua formação, e para os jogadores, que poderiam assim crescer num quadro mais benéfico para a evolução das suas carreiras. Por vezes, uma saída precoce não é a melhor solução para se conseguir uma carreira consolidada.
Nota - Com a Rússia cada vez mais próxima de Portugal no ranking da UEFA, os pontos conquistados pelas equipas nacionais nas competições europeias são preciosos no sentido de continuarmos a ter 3 vagas (duas directas e uma indirecta) na Liga dos Campeões. O duelo entre Benfica e Zenit ganha assim um interesse adicional e na Liga Europa há que tentar somar vitórias na próxima semana."
António Oliveira, in Record
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