"Em 1939, o editorial do New York Times escrevia: «O problema da televisão é que as pessoas têm de sentar-se em frente ao ecrã e não têm tempo para isso». Com as tecnologias nunca sabemos quanto vão durar. Ou como serão: daqui a 50 anos se calhar teremos algo na ponta do indicador que nos permite entrar na Net traçando um quadradinho no ar, como se a rede tivesse já componente física à nossa volta. Talvez.
No futebol, o que se discute nem é uma inovação tecnológica, é só filmar um jogo e pará-lo para ver o filme. Sem perceber eu o que tem isto de novo, mas dando de barato a falta de sentido da expressão, consideremos o que fez o árbitro argentino German Delfino, o homem tecnológico que há dias voltou atrás no penalty que assinalara no Vélez Sarsfield - Arsenal de Sarandi por o auxiliar lhe ter dito que vira a imagem e que não era falta. Como não admirar o coragem de Delfino? Já foi suspenso pela federação local por ter desrespeitado a lei, sim, mas a verdade é que parece ter visto justiça e virtude naquele acto. É platónico, isto.
Pensemos no assunto: a ideia romântica de que o futebol é também popular por ser discutido quebrou no momento em que, convenhamos, vemos um jogo pela televisão e um caso polémico nos condiciona imediatamente a compreensão. É, hoje, um jogo de arbitragem tanto quanto de futebol e se a tal discussão já não ocorre depois do jogo, mas durante, é triste insistir nesse romantismo piroso. Se há tecnologia, usá-la nem é, na realidade, escolha nossa, é uma marca que distingue os humanos de outros animais: o uso de ferramentas. E mesmo sabendo-se que ver na televisão não garante julgamentos perfeitos, Delfino, naquele recurso ao vídeo para rectificar a decisão e ser, justificou ele, «justo», foi de longe muito mais humano do que tecnológico
O futebol, assim resistindo ao que pode ajudá.lo a ser melhor, vai progressivamente tornar-se tão absurdo como comer sopa à garfada."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola
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