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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Os quadros do artista Gaitán

"1 - Defende a bola como um tesouro precioso; o corpo utiliza-o para escapar à fúria de carrascos sem pudor mas também para contar mentiras aos adversários; inventa com a cabeça os milagres que executa com os pés, sinal de que há nele coragem física a enfrentar os choques e força moral para querer sempre a bola e tentá-los. Gaitán possui todas as matérias-primas necessárias para tirar gente do caminho: domínio, arranque, velocidade, travagem e saída para onde manda o instinto. É um jogador deslumbrante, que faz cada vez melhor o que deve nas zonas neutras e ilumina a manobra ofensiva, em terrenos e circunstâncias onde espaços e companheiros, existindo, se escondem e até desaparecem em milésimos de segundo.
2 - Como passa normalmente a primeira barreira de pressão, conquista vasto horizonte pela frente, que lhe permite expressar a técnica sublime e a infindável capacidade para inventar. Costuma jogar na esquerda mas também pode fazê-lo no meio, assumindo papel de intermediário entre a equipa e o ponta-de-lança; entre o jogo e o golo. Na época passada, em grande parte dos jogos europeus fora da Luz, ocupou essa zona vazia quando a equipa actua com dois avançados e que, em 2013/14, já foi preenchida, em nome de equilíbrio e segurança, juntando Rúben Amorim a Matic e Enzo. Nico não tem o sentido estratégico dos grandes maestros mas por ser habilidoso, veloz e coordenado; por viver na permanente busca de espaços vazios e usufruir de quase todas as armas para fazer a diferença, no meio encontra mais panorama para tomar decisões mortíferas.
3 - Aos 25 anos ainda peca por entregar-se a exercícios solitários condenados ao fracasso e pela menor generosidade no apoio defensivo. Mas quando põe tudo em pratos limpos, tira da cartola a iniciativa assombrosa com a bola colada ao pé esquerdo, o passe de morte ou o cruzamento perfeito, como se a glória estivesse, afinal, à distância de um estalar de dedos. Com confiança insolente nas suas capacidades, Gaitán é fabuloso a servir os especialistas do último toque, a alimentá-los expressando a qualidade que interfere no produto final da equipa e na melhoria de quem exerce na sua zona de acção. Na aproximação à baliza é impressionante o modo como vê, analisa, decide e executa em centésimos de segundo, como se os quatro passos fossem apenas um.
4 - No gráfico de produção no Benfica há demasiados altos e baixos que lhe têm atrasado a afirmação como estrela universal. Ao nível mais elevado, é difícil a vida de quem é regularmente recriminado na queda com os antónimos dos adjectivos que ouviu na escalada. Na quarta temporada com a águia ao peito, Gaitán é dos poucos elementos do plantel encarnado de quem Jorge Jesus ainda não extraiu, em continuidade, toda a excelência do futebol que tem para oferecer. Para se consolidar como um dos mais extraordinários futebolistas da Liga, dono de um pé esquerdo abençoado e senhor de ilimitada imaginação, precisa ainda de calibrar a inteligência lógica e a inteligência criativa; ser o funcionário que cumpre todas as regras do senso comum e o artista que agita e desestabiliza a rotina. Poucos como ele têm arte para alimentar o futebol como jogo e espectáculo.

Benfica e Selecção esperam por ele
Há uma nova geração a despontar no futebol português
Viu-se no jogo de Sub-21 em Israel Bernardo Silva é, porventura, o maior talento nascido em Portugal nos últimos anos – combinação de talento, visão, técnica, habilidade, instinto e imaginação. Perfeito a fazer o que deve e genial a inventar soluções, tem desde logo uma dificuldade para se afirmar: ao contrário dos extremos que podem impor-se por eles próprios com alguma independência de exigências funcionais da equipa, na zona central é preciso autoridade para convencer companheiros e intimidar adversários. Bernardo pode chegar tarde mas, fatal como o destino, um dia será titular de Benfica e Selecção Nacional.

Brisa suave do tiki-taka
Veio do Barcelona B para o Rio Ave mas não tem sido muito utilizado por Nuno Espírito Santo Luís Gustavo encheu o campo na vitória dos Sub-21 em Israel
Deu rédea solta ao talento de distribuidor criterioso, pensador exímio e de vistas largas, sem perder de vista o sentido posicional, a pressão sobre o portador da bola e o corte sistemático de linhas de passe. Criado sob os auspícios do futebol rendilhado do Barça, dá à bola o valor sagrado que ela merece. Constitui uma brisa suave do tiki-taka que consolida e abrilhanta o jogo da equipa. Não é muito agressivo e ainda comete alguns erros de avaliação? Só faltava exigir-lhe que, aos 21 anos, fosse um jogador perfeito.

Thiago Silva põe CR7 em 3.º lugar
Porque o amadorismo é coisa do passado, o assalto à Bola de Ouro começa muito antes
Sabe-se pouco do que vai suceder mas Thiago Silva, capitão da selecção brasileira, já tornou pública a decisão de colocar Cristiano Ronaldo em terceiro lugar, atrás de Messi e Ribéry, sustentando a opção com argumento de peso: o português não teve vitórias colectivas em 2013. A escolha do melhor do ano assenta em bases mais sólidas do que o exercício para definir, em absoluto, o melhor do Mundo. Para a primeira basta definir um critério uniforme (nem sempre é possível); a segunda oscila entre a preferência e o momento – é como as ações da Bolsa: umas vezes em alta, outras em baixa."

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