"Há duas expressões no nosso idioma que são muito difíceis de traduzir e de explicar na sua completude. Uma é saudade, a outra é desenrascanço.
Saudade é, em duas palavras, a presença da ausência. Ou a memória do coração. Ou «ser depois de ter». Os vocábulos da língua de Shakespeare, melancholy ou nostalgia não conseguem transmitir tudo o que a saudade comporta em doses multifacetadas de perda, falta, distância, afecto envoltos no tempo que conduz o passado ao presente.
Desenrascanço é a capacidade de resolver um problema com arte, imaginação e improvisação de última hora. É o contrário do planeamento com tempo. É aquilo que a troika não percebe e os alemães odeiam. Há anos, houve um inquérito promovido por um site americano para eleger as dez expressões de outras línguas que não o inglês e que mais fazem falta neste idioma. O nosso desenrascanço liderou a lista!
Entre as 19.45 de sexta-feira e as 21.30 de ontem, as duas palavras acompanharam-me. Na decisão entre Lisboa e Estocolmo, o meu espírito oscilou entre elas: confiei sempre no desenrascanço já habitual de a nossa selecção, nos momentos decisivos e mais difíceis, ultrapassar os obstáculos, mas temi pela imaginária hipótese de, no Verão de 2014, vir a ter saudades de não poder ver Portugal no Mundial.
Felizmente nem sequer foi preciso o consagrado desenrascanço. Ronaldo dispensou-nos disso com uma exibição absolutamente notável e 4 golos contra 2 de Ibra. Blatter vai ter que ver brilhar no Brasil aquele a quem chamou (insultou) «o outro». O dono da FIFA pode ir para casa. Sem saudades de quem gosta de futebol. Jogado sobre a relva, apenas"
Bagão Félix, in A Bola
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