"O último clube de Lajos Czeizler foi o Benfica. Ganhou o Campeonato e a Taça de Portugal à base de goleadas (103 golos em 26 jogos do Campeonato; 6-2 na final da Taça ao FC Porto), mas falhou na Taça dos Clubes Campeões Europeus e isso foi-lhe fatal. Com ele jogava-se sofregamente para a baliza.
MAIS uma página nesta tarefa de recordar e não deixar morrer figuras e factos da vida do Benfica. E há tantos: figuras e factos. Hoje umas, amanhã outros.
Falemos então de Lajos Czeizler, por exemplo. Alberto da Maia escrevia nas páginas deste seu Jornal, aquando da chagada à Luz, estão quase a cumprir-se cinquenta anos: «O verniz sueco, o tom bem italiano, de froma alguma conseguiram impedir que Lajos Czeizler, o novo treinador do futebol benfiquista, nos surja aos olhos como uma figura bem 'húngara', do tipo daquelas que nos habituamos a contactar - e a admirar - dentro do futebol benfiquista». Confusos? Não vale a pena. Como bom húngaro que se preze - naceu em Heves, em 5 de Outubr de 1893, no que era então o velho Império Austro-Húngaro - Lajos Czeizler era um trotamundos. Antes de chegar ao Benfica já treinara na Polónia (LSK Lodz), em Itália - daí o «tom bem italiano» - (Udinesse, Fazenza, Lázio, Milan, Padova, Sampdoria, Fiorentina, comandando a selecção italiana no Mundial de 1954), e na Suécia - o tal «verniz sueco» - (Vasteras e Norkoping).
O fascínio do Benfica pelos treinadores húngaros - talvez o tema mereça uma crónica um destes dias.
Sucederam-se vários, de Lipo Herczka a Janos Biri, de Béla Guttmann a Lajos Czeizler, Lajos Baroti e Pal Csernai.
Quase todos com sucesso. E Lajos Czeizler - «bonacheirão, optimista, mas pleno de personalidade e valor» - veio para a Luz para ter sucesso. Ficou só uma época, 1963/64, mas venceu o Campeonato e a Taça de Portugal. Na época anterior, Fernando Riera, chileno, fora Campeão mas perdera a Taça (eliminação nas meias-finais frente ao Sporting) e a Taça dos Clubes Campeões Europeus (derrota na final frente ao Milan). Ah! Nesse tempo perder uma final da Taça dos Clubes Campeões Europeus deixava marcas indeléveis. E Riera teve de partir.
Golos e golos e golos e mais golos!
NAS tertúlias, nos cafés, os adeptos do Benfica interrogavam-se: então anda o Clube a espalhar o nome pelo Mundo graças ao seu futebol de ataque e agora os seus dirigentes optam por um treinador que fez a maior parte da carreira em Itália, pátria do Futebol defensivo?
Lajos Czeizler sossegava-os: «É verdade, venho de um país onde impera o 'cattenaccio', mas não é menos verdade que sempre fui um dos seus mais fervorosos opositores. Dentro do princípio de que, para ganhar, basta marcar mais um golo que o adversário, eu sou totalmente partidário da ideia atacante, de jogar para a frente, em busca da baliza contrária...»
E como não fazê-lo??? O Benfica tinha Eusébio, e Torres, e Simões, e José Augusto, e Coluna e Yaúca...
Lajos Czeizler prometeu: Lajos Czeizler cumpriu.
O Benfica foi Campeão com seis pontos de avanço sobre o 2.º classificado, o FC Porto. Só perdeu um jogo ao longo de todo o Campeonato, em Alvalade, por 1-3. Marcou 103 golos em 26 jogos.
Era esse o futebol em busca da baliza do húngaro Czeizler: 5-2 ao Vitória de Setúbal, em casa; 4-2 ao Barreirense, no Barreiro; 7-0 ao Leixões, na Luz; 4-2 ao Vitória de Setúbal, no Bonfim; 8-1 ao Olhanense, em casa; 10-0 ao Seixal, também na Luz; 5-1 em Coimbra, à Académica; 8-0 ao Barreirense, na Luz; 5-2 ao Belenenses, na Luz; 4-1 ao Vitória de Guimarães, no Campo da Amorosa; 5-1 ao Leixões, em Matosinhos; 8-0 ao Varzim, na Luz Ufa! Golos e golos e golos e mais golos!
Na Taça de Portugal, a receita repete-se, embora com adversários mais frágeis: 6-0 e 6-1 ao Luso; 8-1 e 9-0 ao Vianense; 8-1 ao Lusitano, em Évora; 6-2 ao FC Porto, na final.
Não havia dúvida sobre quem er a equipa mais forte do Futebol português.
Só que a Taça dos Clubes Campeões Europeus pesava muito. Exige-se do Benfica que fosse longe, que chegasse à final, que ganhasse.
Pois é, outros tempos, esses, os de Lajos Czeizler.
O Benfica ultrapassa a primeira eliminatória com facilidade e mais uma goleada, frente ao Distillery, da Irlanda do Norte: 3-3 e 5-0. Depois defronta o campeão alemão, o Borússia de Dortmund. Vence na Luz por 2-1 (golos de Simões e Eusébio), mas é copiosamente derrotado na Alemanha (0-5).
Há sempre uma mancha, por pequena que seja, no mais alvo dos panos de linho.
À chegada, Czeizler, dirigindo-se aos jogadores, soltou: «Jogar futebol é simples... quando se sabe jogar futebol. E vós sabeis!»
Em campo, conheceu duas derrotas. E mesmo assim partiu. Para o seu lugar veio outro trotamundos, o romeno Elek Schwartz. E o Benfica regressou à final da Taça dos Campeões Europeus.
Lajos Czeizler morreria no dia 6 de Maio de 1969, aos 75 anos.
O Benfica foi o seu último Clube."
Afonso de Melo, in O Benfica
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