"Esta coisa de escrever antes da ultimação de um cartaz com a importância do Barcelona-Benfica é uma maldade, é uma crueldade. A nossa equipa ganhou? Empatou ou perdeu? Na altura em que este registo está a ser lido, o resultado já é conhecido. Foi melhor? Foi pior? Pior é mesmo abalançar-me a uma prosa, horas antes do embate, com aquela sensação de fervência incontida, própria de quem vibra com os afazeres competitivos do seu emblema de afeição.
À história pertence, pertencerá sempre (e de pouco importa, nesse particular, o desenlace de anteontem) aquele Benfica-Barcelona, ainda sem o contributo do genial Eusébio e do desconcertante Simões, que conduziu o nosso Clube ao primeiro triunfo na antiga versão da Liga dos Campeões. A Europa da redonda ficou estupefacta. Como era possível a turma catalã, com relevante dimensão internacional e dispondo do concurso de jogadores da estirpe de Kubala, Kocsis, Czibor, Evaristo ou Suarez, ter baqueado perante um conjunto quase anónimo de um tal Portugal não menos desconhecido e até obscuro por razões extrafutebol?
Onze bravos, mais a brava da fortuna, guindaram o Benfica, nesse 31 de Maio de 1961, à condição de campeão da Europa. Os horizontes europeus haviam sido abertos no melhor consulado técnico anterior por Otto Glória, mas foi o eterno Bélla Guttmann quem lhes deu substância imprevista, já que poucos ousavam, que não no domínio do sonho, assistir ao triunfo benfiquista na então Taça de Clubes Campeões Europeus, logo no dealbar da década de 60.
Pelo Velho Continente, nomes como Coluna, Águas, Germano, José Augusto ou Cavém passaram a ser citados amiúde. Hoje, os artistas são outros. Como ficou o Barcelona-Benfica, há horas atrás? Todos sabem. Eu, nesta altura, não sei. Mas sei, qualquer que tenha sido o desfecho, que um dia houve quem fizesse galopar a taxa de felicidade vermelha."
João Malheiro, in O Benfica
Sem comentários:
Enviar um comentário
A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!