"MESMO COM UMA LESÃO
GRAVÍSSIMA, SIMÕES
QUIS CONTINUAR
EM CAMPO EM PROL
DA EQUIPA.
Como podemos medir o
“amor à camisola”? Na
atualidade, o desporto é
encarado como uma
indústria que gera muitas receitas, o rendimento dos jogadores é
avaliado ao pormenor para que se
possa usufruir tanto desportiva
como economicamente. O clube
vendedor quer maximizar estas
duas vertentes, enquanto o comprador tenta antecipar o auge do
atleta para que possa beneficiar
da sua ascensão, garantindo-o a
um preço mais reduzido. Com o
tempo contra si, os jogadores são
obrigados a gerir escrupulosamente as suas curtas carreiras
para assegurar o seu futuro após
“pendurarem as botas”.
Alguns adeptos também se
tornaram mais exigentes, interpretando os sacrifícios no campo
como atos de profissionalismo.
Apesar de a perceção sobre os
jogadores ter sido alterada,
a garra, a ambição e a resiliência
mantêm-se como valores defendidos e partilhados pelos grandes
jogadores.
António Simões foi um desses
casos. Mesmo com a qualidade
técnica de um predestinado,
lutava por cada lance com uma
garra que motivava companheiros e adeptos. Na época de
1959/60, ingressou nos juniores
do Benfica e, após duas épocas,
foi promovido à equipa de honra.
Ao longo de uma década, destacou-se pela verticalidade que
imprimia no flanco, sendo uma
peça importante de uma equipa
que encantou a Europa e conquistou vários títulos.
A temporada 1967/68 iniciou-
-se sem que se introduzissem
substituições. O International
Board tinha proposto duas substituições por jogo em fevereiro de
1967, mas o critério ficou a cargo
das federações, que não aderiram. Na 1.ª jornada do Campeonato Nacional, o Benfica recebeu
o Vitória SC, numa partida marcada por entradas duras desde os
primeiros minutos. A permissividade do árbitro fez com que
o jogo se tornasse mais quezilento, e, aos 20 minutos, Simões foi
uma das vítimas desse estado.
Obrigado a sair duas vezes para
ser assistido, acabou por voltar
ao campo para que a equipa não
jogasse reduzida.
“Mesmo lesionado, foi sempre
esclarecido e útil em todas as
suas intervenções.” Condicionado, alterou a sua forma de jogar,
com “toque de primeira, faltaram
as fintas e os dribles que partem
os rins ao defesa, as corridas e os
centros que criam as abertas
para Torres e Eusébio”.
Na 2.ª parte, o Benfica deu a
volta e chegou à vitória nos últimos minutos. No final do jogo,
depois mais de uma hora a jogar
com uma rotura do ligamento
lateral interno do joelho esquerdo,
Simões foi levado ao colo pelos
companheiros, numa demonstração de gratidão pelo seu sacrifício.
Existe “amor à camisola”?
Os sacrifícios, o sangue e o suor
deixados em campo, independentemente do rumo que a carreira tome, são uma manifestação de amor. Mas nem todos o
podem entender, pois é impossível medir o amor sem se amar!
Saiba mais sobre a carreira
deste fenomenal jogador na área
23 – Inesquecíveis, do Museu
Benfica – Cosme Damião."
António Pinto, in O Benfica

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