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quarta-feira, 26 de novembro de 2025

O líder do sacrifício


"MESMO COM UMA LESÃO GRAVÍSSIMA, SIMÕES QUIS CONTINUAR EM CAMPO EM PROL DA EQUIPA.

Como podemos medir o “amor à camisola”? Na atualidade, o desporto é encarado como uma indústria que gera muitas receitas, o rendimento dos jogadores é avaliado ao pormenor para que se possa usufruir tanto desportiva como economicamente. O clube vendedor quer maximizar estas duas vertentes, enquanto o comprador tenta antecipar o auge do atleta para que possa beneficiar da sua ascensão, garantindo-o a um preço mais reduzido. Com o tempo contra si, os jogadores são obrigados a gerir escrupulosamente as suas curtas carreiras para assegurar o seu futuro após “pendurarem as botas”.
Alguns adeptos também se tornaram mais exigentes, interpretando os sacrifícios no campo como atos de profissionalismo. Apesar de a perceção sobre os jogadores ter sido alterada, a garra, a ambição e a resiliência mantêm-se como valores defendidos e partilhados pelos grandes jogadores.
António Simões foi um desses casos. Mesmo com a qualidade técnica de um predestinado, lutava por cada lance com uma garra que motivava companheiros e adeptos. Na época de 1959/60, ingressou nos juniores do Benfica e, após duas épocas, foi promovido à equipa de honra. Ao longo de uma década, destacou-se pela verticalidade que imprimia no flanco, sendo uma peça importante de uma equipa que encantou a Europa e conquistou vários títulos.
A temporada 1967/68 iniciou- -se sem que se introduzissem substituições. O International Board tinha proposto duas substituições por jogo em fevereiro de 1967, mas o critério ficou a cargo das federações, que não aderiram. Na 1.ª jornada do Campeonato Nacional, o Benfica recebeu o Vitória SC, numa partida marcada por entradas duras desde os primeiros minutos. A permissividade do árbitro fez com que o jogo se tornasse mais quezilento, e, aos 20 minutos, Simões foi uma das vítimas desse estado. Obrigado a sair duas vezes para ser assistido, acabou por voltar ao campo para que a equipa não jogasse reduzida.
“Mesmo lesionado, foi sempre esclarecido e útil em todas as suas intervenções.” Condicionado, alterou a sua forma de jogar, com “toque de primeira, faltaram as fintas e os dribles que partem os rins ao defesa, as corridas e os centros que criam as abertas para Torres e Eusébio”.
Na 2.ª parte, o Benfica deu a volta e chegou à vitória nos últimos minutos. No final do jogo, depois mais de uma hora a jogar com uma rotura do ligamento lateral interno do joelho esquerdo, Simões foi levado ao colo pelos companheiros, numa demonstração de gratidão pelo seu sacrifício.
Existe “amor à camisola”? Os sacrifícios, o sangue e o suor deixados em campo, independentemente do rumo que a carreira tome, são uma manifestação de amor. Mas nem todos o podem entender, pois é impossível medir o amor sem se amar!
Saiba mais sobre a carreira deste fenomenal jogador na área 23 – Inesquecíveis, do Museu Benfica – Cosme Damião."

António Pinto, in O Benfica

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