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terça-feira, 4 de novembro de 2025

O Benfica e a importância do ‘day after’


"Qualquer ato eleitoral é um fator de agitação, e as campanhas tendem sempre a hiperbolizar as divergências. Depois, contados os votos, glória ao vencedor e honra ao vencido, devendo, a seguir, ser feita da pluralidade de opiniões uma força, e dada mais importância ao que une, e não ao que separa...

Entre os sócios do Benfica que vão votar na segunda volta das eleições para os Órgãos Sociais do clube, marcadas para o próximo sábado, não haverá, ao dia de hoje, um número significativo de indecisos, nem é crível que venham a ser criadas dúvidas nos cinco dias que nos separam do ato eleitoral. As posições de Rui Costa, o incumbente, e Noronha Lopes, o ‘challenger’, estão mais do que clarificadas, não há argumentos novos a apresentar, e a única incerteza residirá na quantidade de votantes que farão ouvir a sua voz, depois da histórica participação na primeira volta.
Diga-se, desde já, que exercícios democráticos em grandes clubes europeus são uma raridade, já que a estrutura da esmagadora maioria assenta em acionistas que não perdem lugares nas urnas, vendem-nos, isso sim, se assim o entenderem. Não será demasiado ousado afirmar que o que esses emblemas perdem em romantismo (e até legitimidade), que deriva do governo do povo pelo povo, ganham na estabilidade que é conseguida e que permite que se consolidem projetos. É evidente que estou a falar de investidores sérios (e por cá também os há), e não em pilha-galinhas (e por cá também os há, em doses reforçadas, graças à falta de escrutínio instituída) que parasitam os clubes, que sugam e depois abandonam na miséria.
A estabilidade - não a confundamos com marasmo, ou com conivência com más práticas - é um bem precioso neste ramo de atividade, capaz de, por exemplo, dar seis anos a Alex Ferguson sem ganhar nada no Manchester United, criando-lhe condições para, a seguir, ganhar tudo, permitir duas décadas a Arsène Wenger no Arsenal, ou, mais recentemente, dar tempo a Arteta, Maresca ou Ruben Amorim para desenvolverem o seu trabalho.
Num clube governado por um modelo tradicional como o Benfica, que tem 160 mil sócios com capacidade eleitoral, dos quais 86 mil exerceram o seu direito de voto na primeira volta das eleições, há coisas que, em meu entender - e só sou dono da minha verdade (e não, dogmaticamente, da verdade universal) e dessa nunca abdico – fazem pouco sentido, e outras que não fazem sentido nenhum. Na primeira, situação está a forma como a discriminação positiva, traduzida na quantidade de votos atribuídos a cada sócio consoante a antiguidade, é exercida. Sendo defensor dessa fórmula, creio que o peso devia ser recalibrado, para além do que foi feito na recente revisão estatutária. E é curioso porque há um dado novo no Benfica, que terá influência crecente na vida associativa do clube, que tem a ver com o número (supreendentemente?) alto de sócios entre os 30 e os 40 anos de idade, que têm direito a 50 votos, derrubando o preconceito que quem mandava, no fim do dia, eram os mais velhos e, por natureza, os mais conservadores.
A segunda situação tem a ver com a aberração confirmada e reforçada na revisão estatutária, que dá a algumas centenas de sócios, com acesso às Assembleias Gerais (por questões de militância, mas sobretudo geográficas), um poder desmesurado e, até, ofensivo, para a generalidade dos associados de um clube que, tendo Lisboa no nome, há muito deu o salto para a universalidade."

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