"No próximo sábado os sócios do Benfica irão decidir qual o caminho que o clube irá seguir. Num momento tão conturbado, a palavra que melhor descreve a importância destas eleições é... responsabilidade.
O contexto Benfica
O contexto que o Benfica atravessa não é fácil. A ausência regular de títulos no futebol torna tudo mais complicado. A questão é que os resultados dentro do relvado são apenas o reflexo da forma como toda a organização está a ser gerida. O descontrolo financeiro é evidente. A subida de custos e os elevados investimentos, quando não são acompanhados por uma ideia consistente e por um caminho bem definido, acabam por não trazer aquilo que se pretende, que são resultados desportivos. Ao não se ganhar, coloca-se tudo em causa e volta-se a trocar tudo na esperança de que o sucesso bata à porta.
A gestão no Benfica está a ser feita ao dia, a empurrar com a barriga para a frente e não com uma visão de médio/longo prazo. Esta forma de estar é arriscada e perigosa. As perguntas que todos os sócios deviam colocar são: se acontecer ao Benfica aquilo que aconteceu a FC Porto e Sporting, que já ficaram um ano fora da Liga dos Campeões, o que vai ter de ser feito? Se por acaso a receita (direta e indireta) da Liga dos Campeões faltar, como ficará o Benfica? Quantos jogadores terá o Benfica de vender para se equilibrar? Será que o Benfica tem receitas fixas que suportem os seus elevadíssimos custos fixos? Ou depende demasiado de receitas variáveis? Gostando-se ou não, os últimos quatro anos foram marcados por elevados investimentos, aumento generalizado e substancial de custos face aos rendimentos fixos, vendas astronómicas, aumento considerável da exposição ao crédito e ausência de rendimento desportivo.
A complementar tudo isto, surgem dois pontos muito relevantes. Nestes últimos quatro anos o Sporting conseguiu reerguer-se com muito menos capacidade financeira que o Benfica. Recuperou financeiramente e ganhou títulos de uma forma consistente. Já o FC Porto, nestes últimos quatro anos, passou por uma situação muito complicada em termos sociais e financeiros. Mesmo assim, neste período, o FC Porto ganhou um campeonato, três Taças de Portugal, uma Taça da Liga e duas Supertaças! Foi ainda neste período que os prémios da Liga dos Campeões aumentaram e que o formato da competição trouxe mais jogos, logo mais receita e espaço de valorização da marca e dos atletas. Ou seja, num período em que o Benfica estava claramente numa posição muito mais confortável em termos financeiros, na vertente desportiva este facto não teve o respetivo impacto.
Candidatos: 1x1
A campanha eleitoral deixou muito a desejar, sobretudo destes dois candidatos finalistas. Analisando os dois candidatos, mesmo numa situação de fragilidade, ninguém tem dúvidas que no 1x1 Rui Costa ganha de goleada. Noronha Lopes até pode ter um bom CV, mas não sabe comunicar. Enquanto Rui Costa cria empatia e tem carisma, Noronha gera dúvidas e não convence. Enquanto Rui Costa ganha na forma como comunica, apesar do conteúdo não ser fiável, Noronha não ganha nem na forma nem no conteúdo, com ideias baralhadas, com chavões repetidos insistentemente e sem ter a capacidade que os grandes gestores têm, que é saber apresentar as suas ideias de uma forma simples e percetível, ou seja, fazer com que todos percebam a sua mensagem.
Numa eleição há duas formas de conquistar os sócios: ou através de uma figura que passe a confiança necessária a quem vai votar, ou na ausência de alguém com carisma, essa confiança pode ser conquistada através da equipa que está por trás do candidato. Rui Costa enquadra-se na pessoa que gera empatia e que os sócios reconhecem. Noronha Lopes enquadra-se naquele que tem de ganhar pela sua equipa, porque a sua imagem não agrega e não cria entusiasmo. Então, o que deveria ter feito? Por um lado, já deveria ter percebido isto há muito tempo. Por outro, já deveria ter colocado pessoas como Bagão Félix, José Theotónio (da parte das finanças), Filipe Gomes (das modalidades) e Nuno Gomes (futebol) a falarem das respetivas áreas, de forma a que a confiança dos adeptos fosse sendo criada por quem o rodeia e não pelo próprio.
Rumo
A responsabilidade do rumo que o Benfica vai seguir é de todos. Apesar das duas alternativas deixarem muito a desejar, os sócios terão de escolher uma delas, pensando no que é melhor para o clube. Já os candidatos sabem que aquele que vencer tem uma enorme responsabilidade. A primeira missão será unir todos em torno de um objetivo comum. A começar pelo interior do clube, onde muitos funcionários estão desmotivados e descrentes. Para o Benfica vencer é preciso que, internamente, todos estejam conectados e a rumar para o mesmo caminho. O segundo ponto é o de conseguir que os sócios e adeptos se revejam no caminho que irá ser seguido, de forma a que o apoio vindo de fora seja mais um importante trunfo, que permita atingir os resultados pretendidos. Para isto será importante que volte a ser fomentada a cultura Benfica, que permita que valores como respeito, dedicação, esforço, transparência, credibilidade, união, profissionalismo e compromisso estejam sempre presentes e sejam reconhecidos externamente.
Por fim, todos, sócios e candidatos, têm a responsabilidade de fazer com que o próximo dia 8 de novembro seja mais um dia marcante para o Benfica e para o desporto nacional. Para que isto aconteça, será importante que o ato eleitoral decorra com total tranquilidade, sem dúvidas, sem suspeições e com respeito por todos, independentemente da opção de cada um dos sócios.
Abel Ferreira
Está há cinco anos no Palmeiras e já é o melhor treinador de sempre do clube brasileiro. Voltou a colocar o Palmeiras numa final da Taça dos Libertadores, quando tal parecia impossível!"

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