"À entrada para a 10.ª jornada da Liga Portugal, o Gil Vicente ocupa o 4.º lugar da tabela classificativa. Um registo que merece ser sublinhado e valorizado. Ver o emblema de Barcelos entre os primeiros é o reflexo de um trabalho de grande mérito e de uma liderança convicta: a de César Peixoto. Surpresa? Apenas para os mais desatentos.
O treinador gilista tem conseguido algo que, em Portugal, nem sempre é devidamente reconhecido: criar uma equipa com identidade, com uma ideia de jogo clara, moderna e ambiciosa. O Gil Vicente de Peixoto joga para ganhar, com coragem e intenção, sem complexos perante nenhum adversário. É uma equipa que quer ter bola, que sabe o que fazer com ela e que se organiza para a recuperar rapidamente quando a perde. Tudo isto nasce de um princípio inegociável: o domínio através da ideia.
A história de César Peixoto ajuda a compreender o treinador que hoje é. Cresceu com o futebol nas veias e com o exemplo do trabalho diário. O pai, adepto do Vitória de Guimarães, levou-o aos treinos dos minhotos quando tinha apenas dez anos. Desde cedo, aprendeu o valor do esforço e da superação. Trabalhou numa fábrica de calçado antes de conseguir dedicar-se em pleno ao futebol, uma passagem simbólica que revela o seu caráter: determinado, persistente e com os pés bem assentes na terra.
Subiu os degraus do sonho com a calma de quem sabe esperar: Brito, Caçador das Taipas, Belenenses e, finalmente, FC Porto. O esquerdino de toque fino e personalidade forte rapidamente conquistou espaço num dos clubes mais exigentes do país. Viveu a glória, conheceu a dor das lesões, aprendeu com treinadores de referência e representou a Seleção Nacional. Tudo isso o moldou — e, de certa forma, o preparou para o que viria a seguir: liderar homens, gerir emoções e construir equipas.
O César Peixoto treinador é, em muito, o oposto do jogador malandro que ele próprio já confessou ter sido. A idade e a experiência trouxeram-lhe outra serenidade. Hoje, é um técnico exigente, perfeccionista e profundamente convicto das suas ideias. Define-se como alguém zero influenciável e isso vê-se dentro de campo: não abdica dos seus princípios, mesmo quando o resultado parece sugerir o contrário. Essa coerência, rara no futebol, é um dos seus maiores méritos.
A sua filosofia assenta em três pilares: jogo positivo, valorização dos jovens e responsabilidade partilhada. Máxima liberdade, máxima responsabilidade é assim que gere o grupo. Os jogadores têm espaço para se expressar, mas sabem que essa liberdade implica compromisso total. É uma liderança que conjuga disciplina com empatia, exigência com proximidade.
E essa ligação é real. O episódio recente em que Zé Carlos, Ghislain Konan e Jonathan Buatu interromperam uma conferência de imprensa apenas para demonstrar apoio ao treinador é revelador de um ambiente saudável e autêntico. Esse gesto não se ensaia: nasce do respeito e da admiração genuína.
O Gil Vicente reflete fielmente o seu líder. É uma equipa organizada, mas criativa; intensa, mas serena; humilde, mas confiante. O equilíbrio entre solidez defensiva e atrevimento ofensivo é um traço distintivo deste Gil. Há uma ideia de jogo sustentada, uma estrutura tática pensada ao detalhe e uma execução que demonstra trabalho diário, muito trabalho.
César Peixoto tem sabido potenciar jogadores como Pablo, um avançado com faro de golo no ADN — filho de Pena, o antigo goleador do FC Porto — e Varela, ambos com potencial e rendimento que justificam uma chamada aos sub-21 de Portugal. É um treinador que confia nos jovens e que os faz crescer dentro de um contexto competitivo exigente.
No futebol, a linha que separa o sucesso do fracasso é, muitas vezes, a coerência. E Peixoto tem sido coerente: nas vitórias e nas derrotas, nas conferências de imprensa e nos treinos, na exigência e na serenidade. Recusa o deslumbramento e elogia o grupo. Valoriza o trabalho diário e o mérito coletivo. A humildade da equipa é o que me faz acreditar que não haverá deslumbre, afirmou recentemente. Essa frase diz tudo sobre a sua forma de estar.
César Peixoto tem hoje um projeto, uma equipa e, sobretudo, uma convicção. Em Barcelos, construiu algo que vai além da classificação: construiu respeito. E isso, no futebol, vale tanto como os pontos somados.
A caminhada do Gil Vicente é o espelho do seu treinador: persistente, disciplinada e convicta. O 4.º lugar pode mudar com as próximas jornadas — o futebol é imprevisível —, mas o que não mudará é a evidência de que César Peixoto está preparado para patamares mais altos. O seu percurso, da fábrica de calçado à Liga Portugal, é uma história de superação. O que faz hoje em Barcelos é, simplesmente, a continuação desse caminho: o de quem acredita nas ideias, trabalha com convicção e lidera com autenticidade.
O Gil Vicente é, neste momento, o exemplo vivo de que trabalho, humildade e coerência ainda são sinónimos de sucesso.
E o rosto desse sucesso chama-se César Peixoto."

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